1.8.01

*Andando às cegas no escuro

Cansada de me dizerem sempre “o quê”, um dia eu comecei a ler o que me deu na telha. Arranquei livros difíceis da estante e comecei a debulhá-los. Tirados da estante da biblioteca da escola, dos livros herdados do avô, sebos e parentes, me inundaram de informação non-pop.
Que a informação pop nos vem como distração e é inútil; a informação dos bons livros, perigosa transformadora, é protegida do “manuseio indevido” porque, além de inútil, não quer entreter em especial. Ao contrário, às vezes fornece infernos. Infernos são difíceis.
Enquanto é fácil o pé número 42 do astronauta ter pisado na Lua em 1969, é difícil que Bentinho tenha tentado envenenar o (próprio?) filho. Difícil de digerir, mais do que alimentos gordurosos após as seis da tarde.

*Momento eu lembro

*1-Fauna animal

Eu lembro de um preá que pulou na piscina num dia de inverno. Ou melhor, ele tomou uma distância fenomenal, desde a magnólia que fica atrás da piscina, deu uma corridinha e pulou de cabeça. Melhor do que eu.
Depois ele ficou procurando uma saída. Ficou contornando a piscina, num nado peito melhor do que o meu. Várias voltas depois, fiquei com dozinho e cacei o preá com a rede de apanhar folha. Larguei o bicho na grama. Ele me agradeceu e sumiu no meio dos antúrios. Na verdade, acho que ele não me agradeceu, mas eu teria gostado desse realismo fantástico. Preá ingrato.

Aranha na beira da piscina, eu cheguei perto ela não se mexeu. Eu cheguei pertinho ela não se mexeu. Irritada com tanta imobilidade, peguei um galho e cutuquei-a. Das costas dela começaram a sair aranhinhas pra todos os lados. Era uma mãe sendo abandonada pelos filhos no primeiro revés da vida. Aranhinhas ingratas.

*2-Moço

Percebi que estava a fim dele quando ele pediu minhas medidas e eu fui até a máquina de costura da minha vó, peguei a fita métrica, verifiquei bunda, peito, coxa, cintura, quadril, e mandei via icq. E eu não sou cachorra.
É só o que eu lembro por hoje.

*(repostado do servidor defunto do Desembucha.com)