6.4.03

A praga das sacadinhas

Estou pensando em me pronunciar contra isso há um tempão. Mas hoje é que me senti inspirada.
Existem pessoas que acham que escrever - seja em literatura, teatro, cinema ou o que for - é ter "uma grande idéia". Em parte, é sim. E é difícil ter a tal da grande idéia. Mas quando a pessoa é sem-noção, é fácil usar a "grande idéia" como BASE, e não como PONTO DE PARTIDA, para uma obra.
Quer exemplos? Então toma.
E se eu fizesse Deus descer à terra e ele fosse tão humano quanto nós? Uau! Eu sou um gênio!
E se Jesus voltasse hoje em dia e fosse discriminado por outros motivos? Como ter AIDS? Ou ser mulher? Ou menino de rua? JÁ SEI!
Jesus é uma menina de rua aidética!!
E se as pessoas mortas pudessem nos ver, mas nós não as víssemos?
E se uma pessoa morta só pudesse entrar no céu depois de corrigir seus erros? E tivesse que voltar à terra para corrigi-los?

Quer dizer, Dostoiévski teve a sua sacadinha também. "E se houvesse um personagem que, por ser mais inteligente que os outros, se achasse superior? E por isso achasse que tem o direito de fazer o que quiser? E se o fizesse? Como eu faria esse cara se dar mal no final? (sim, ele era ideologicamente católico: esse indivíduo que comete um crime tinha que ter um castigo!)". Mas você vê, aí tem uma história nascendo e criando raízes, não um pastiche de mitos sem profundidade.
O pior é que as idéias se repetem depois que alguém a tem pela primeira vez. Então, as coisas que saem da pena desses "autores" nem mesmo são mais originais.
Vão ser diretores de criação, vocês. (Dos males, o menor!)