7.3.04

Parece que fazer as próprias unhas é uma realização anti-burguesa. Ter que pagar mulheres mais pobres para tornarem de 10 a 20 exíguos (3x2cm) pedaços de pele + compostos de cálcio lisos e coloridos parece, de alguma forma, o cúmulo da maria-antonietice. Ainda mais se for 6 reais a cada semana e meia.
(A primeira amiga que fez minhas unhas direito era justamente filha de uma manicure. Já falei dela aqui, a Branka. Pois a Branka pintou minhas escalavradas unhas tão bem, mesmo sem tirar cutícula antes, que eu elogiei e disse inocentemente: você podia bem ser manicure. E ela: deus me livre de ter a mesma vida que a minha mãe.)
O meu problema era com os 6 reais, mas também outros.
1.Eu não queria fazer as unhas sempre, então minha mãe me obrigava.
2.as manicures faziam no mínimo cara feia para minhas unhas, que eu roía.
3.Fazer as unhas me dava um sono irresistível.
Minha mãe me obrigava a ir nessa mulher sádica que mandava eu parar de roer as unhas e puxar as cutículas. Como eu não o fizesse, ela me castigava. Metia o algodão com acetona bem no meio da ferida, puxando a pele com o dedo para entranhar mais; lixava furiosamente minhas unhas, que já estavam no sabugo, portanto doía; empurrava com violência aquela pele que nasce sobre a base da unha com aquele instrumento de tortura dela. Eu a odiava. E minha mãe me obrigava a ir. Tentei outras manicures do salão, que eram menos sádicas, mas tiravam bifes de onde não estava ferido e punham a culpa em mim.
Hoje, aprendi a fazer minhas unhas. Quando conto isso pra minha mãe, ela faz uma cara de nojo.