25.4.04

Se eu fosse uma crítica literária, faria exatamente aquilo que o Paulo Pires diz, pelo menos no que se refere a não ficar embasbacado por receber tantos lançamentos digrátis no-conforto-de-seu-lar mas sim, passear pelas livrarias em busca dos lançamentos pobres, pequenos, anônimos e mal marketeados. E nem precisa ser uma livraria alternativa, não. Serve uma megastore da vida, especialmente se a crítica for anti-social: nenhum atendente chegará perto, com medo de saber menos que o cliente.
Na Siciliano do Shopping:
"A filosofia dos Simpsons", espécie de "A filosofia da Matrix" clone. Mas parece interessante, apesar de superficialzinho, não-acadêmico.
"Cantiga de ninar". Também conhecido como "livro novo do Chuck Palahniuk", também conhecido como "o cara que escreveu Clube da Luta, não o filme, o livro". Gosto dos personagens dele. Nesse tem uma feiticeira adolescente, que tem um namorado hacker chamado Ostra.
"Aritmética", o novo da Fernanda Young, que tira fotos cada vez mais escrotas para quartas-capas. Pelo menos na sinopse, parece que ela finalmente saiu do esqueminha "casal neurótica-controlado". Agora são várias neuróticas e vários controlados. De repente é até bom. E ficou melhor o esquema de capítulos curtos. Possível best-seller, por envolver tema universal (matemática) e "forças maiores que controlam o destino das pessoas" (uma equação, no caso). Isto sempre funciona. Pelo menos para o Paulo Coelho. E é possível escrever bons livros a partir disso (mas não EM CIMA disto; é diferente, é diferente!).
Sinceridade. Espontaneidade. Eu gostaria de ler análises como estas em cadernos literários, mas não é o que acontece. O "Prosa e Verso" está cada vez mais chato, exceto por duas vezes mais ou menos recente em que o Antoun e o Ximenes fizeram matéria, e olhe lá. As colunas fixas são irregulares, às vezes têm muita punhetice. Enquanto isso, vou escrevendo o meu próprio caderno literário. Não dependo de anunciante, mesmo.