11.4.04

Tinha 15 anos e meio quando achei, na livraria do Espaço Unibanco, quando ainda era livraria e não sebo, "A sombra das vossas asas", da Fernanda Young quando era apenas uma maluquinha desconhecida. Eu quis aquele livro. Com 17 anos achei que já tinha maturidade para lê-lo e pedi de aniversário. Meu pai pediu pela internet (o primeiro livro que pedi pela internet) e interceptou-o. O livro era dividido em partes e uma das partes se chamava "Todo cu é preto".
Mesma coisa quando tinha nove anos, achei "Boitempo III", do Drummond, na estante, e fui mostrar pra ele, olha só, que tinha palavrão na poesia, e ele me tomou o livro. Os pais acham que a gente não cresce.
Mas não é disso que eu queria falar. O problema era a Fernanda Young. Eu não gostava dela, e quanto mais ouço e leio sobre ela, menos gosto. Não gosto dos temas dela também. Mas ela escreve de um jeito que, em alguns livros, encaixa com os temas num clic de perfeição. O universo da obra em si é completo, uno. Fala-se com propriedade sobre o assunto, e isso é tão raro... ver alguém realmente pensando. Tenho dois, o "A sombra..." (para mim, o melhor) e o "As pessoas dos livros", que achei um pouco mais chato.
Ontem vi um filme do Walter Hugo Khouri, Forever. Punhetice pura também. Mas os diálogos são bem feitos, as motivações são claras... e o final, tenho que dizer, coerente. O que eu posso fazer senão assistir? Ah, no meio do filme, me surge a Ana Paula Arósio cabeçuda, com 16 anos. Mas isto também é outra história.
Estou querendo dizer é que mesmo sendo um canal de expressão do autor, a obra não está vinculada a ele. Você pode abominar um autor como pessoa ou arrolá-lo como alguém com que jamais travaria uma amizade, saber que ele se inspira nas próprias fantasias ou experiências pessoais para realizar uma obra, e ainda assim gostar da obra. Se o estilo em que o sujeito expõe suas idiossincrasias lhe agrada, até a discordância é um prazer. Então compro livros de pessoas que acho ridículas. Mas bom mesmo é comprar daquelas pessoas com as quais você se sente em sintonia, como a Indigo. Ainda vou comprar o "Caixinha de Madeira".