22.12.04

Coffee-table book

Todos os ricos se conhecem. Apresentar à sociedade. Débuter. Numa transação, os ricos se esbarram. Então ficam dizendo como este mundo é pequeno! em meio a decoração Tok & Stok. O Banco Santos tinha vários clientes importantes, entre eles o grupo Votorantim, estão atrás deles agora. Minha filha estuda no Santo Inácio, o colégio mais humano. Cansei das empregadas -- roubou! Aceita coca light? A outra meteu a menina, seis anos, imagine, no Opala preto do namorado, tinha cara de bandido, pediram para a menina fechar os olhinhos, ficaram no maior amasso no banco da frente. Amenidades. Agora que tal transferirmos estes vinte mil pelo internet banking? Não dá depois das dez, é por causa dos seqüestros-relâmpago.

A reprodução entre ricos e ricos apenas e a falta de mobilidade social provocam a falta de diversidade genética. A falta de diversidade genética provoca crimes estéticos como o que vi comprando um lanche no McDonald's do Leblon outro dia. No Leblon que era onde os Paralelos discotecariam, mas foram enxotados para a Cinelândia para dar lugar para a festa de uma academia (oito anos, data de extrema importância). Coletânea de monstruosidades, monstrinhos de nariz torto, boca grande, dentes horríveis, dedos roliços, unha fêmea, pêlos demais. Aí fazem plástica, passam um mês de adesivo no nariz, um ano de aparelho, as férias num spa, depilação a laser, unha de porcelana, mas Lamarck estava errado. As características adquiridas não passam para os filhos, a tendência é só piorar, bebês com cara de joelho ralado e inflamado de pus.
O crime ambulante estava arrolado como "cocota", numa foto que vi num jornalzinho de terça. "Cocota" na acepção "freqüenta a praia no Leblon". Isso explica o namorado negro e pobre (Cidade dos Homens), com o qual não casará: é permitido se divertir na adolescência, as clínicas clandestinas estão aí pra provar, mas é preciso manter o patrimônio, vão-se os anéizões, ficam os dedões.