26.6.05

Mme. Guillotine

Muitas vezes, quando vou de metrô para o trabalho, me aproximo da porta antes mesmo da estação anterior. A pressa não é tanta; é só vontade de evitar o estresse da gente incivilizada que todo santo dia entope a suposta via expressa das escadas rolantes. Regras londrinas, of course. Só que a estação anterior tem saída pelo lado oposto e invariavelmente vem algum "prestativo" com ar condescendente me informar: menina, a saída é do outro lado. Aprendi, através de sucessivas experiências, que não adianta ignorar (eles cutucam o seu ombro - o horror! o horror!), nem mandar cuidar da própria vida, e teve um que insistiu mesmo depois de um "eu sei"; tentei de tudo, mas o mais funcional é uma frase simples, rápida e praticamente indolor (para mim), como "salto na próxima", por exemplo, pra essa gente ir embora rápido. A condescendência tem que ser abatida rápida e impiedosamente, páf.
Outro dia, o zíper da mochila quebrou e eu, escolada, fiz mais uma previsão desgraçadamente acurada: o pior vão ser as pessoas me avisando que minha mochila está aberta. Quatro, só na volta do trabalho. A frase espanta-moscas, desta vez, foi "o zíper quebrou".
Sei que isso, exatamente isso, vai acontecer com o livro novo. Por causa da minha idade, as pessoas não vão acreditar no nível de premeditação. Vão achar que foi tudo um grande acidente. E vão me fazer perguntas/contar coisas sobre o meu próprio livro que eu já sabia. Só não sei bem que frase reservar a elas ainda.