28.3.06


Emil NOLDE - Summer clouds

Foi a pintura de que mais gostei em toda a viagem (de agosto pela Europa). Está no Thyssen-Bornemisza, na Espanha.

27.3.06

Não é legal quando você viaja e todos têm vários posts novos e tem 3 dias de jornal por baixo da porta? Seria ainda melhor se livros pudessem acasalar e gerar novos livros enquanto a casa está vazia. (Deixava um Dickens com um Chuck Palahniuk, que será que ia dar?)
Quando eu era criança tinha essa impressão: que surgiam livros na minha casa que não estavam lá antes. Eu sabia de cor o conteúdo das prateleiras - nas quais trepava usando cadeiras, as gavetas e a bancada - e mesmo assim surgiam novos que ninguém sabia explicar de onde tinham vindo. Eu me sentia num filme-de-etê: perguntava a todas as pessoas da casa se tinham trazido esse livro que eu estava segurando, eles pegavam, olhavam a capa e diziam nunca ter visto. "Mas não estava lá antes", eu batia o pé, desacreditada como criança maluca.
I mean, tínhamos muitos livros (muita coisa chata e ruim, pra dizer a verdade) e eu lia um pouco de tudo: de engenharia (li "Ao pé do muro"), cálculo, psicologia (li "Filhos queridos"), romances de banca - tínhamos "A vida do bebê" e o outro para "crianças até 16 anos" que recomendava livros para cada faixa etária. Algumas recomendações me interessaram, mas eu não sabia "pedir pra mamãe" como os comerciais da Xuxa conclamavam. Eu era a Rei Ayanami nessa época, eu nem sabia constatar um desejo, quanto mais batalhar pela sua concretização.
Os livros recomendados começaram a aparecer em minha casa, sem que eu pedisse nem falasse neles.
Apareciam no meio de outros totalmente díspares - eu era capaz de reconhecer a lombada como de ficção lá de baixo, e trepava atrás dele. Quando eu os mostrava às pessoas da casa, já disse: ninguém sabia dizer de onde tinha vindo aquilo. Eu chegava a propor teorias: será que não vieram da minha madrinha professora? -Não, ela só mandou livro didático. Tendo chegado a revistar todos os armários da casa atrás de "mais livros" e surpresas velhas como fantasias de carnaval, não creio que tenham vindo daí - da coleção velha de alguém, encaixotada por falta de espaço nas estantes. E não, meus pais não eram nem um pouco o tipo de pessoa criativa que esconde ovo de páscoa, se veste de Papai Noel - ou seja, trabalha ativamente para corroborar mitos úteis à infância. Eles falavam sério.
Dei de ombros e fui ler. Li "Raul da ferrugem azul" e "Manu, a menina que sabia ouvir" nesse esquema místico. E quem conhece o conteúdo dos livros sabe que eles estão cheios de coisas inexplicáveis. Assim sendo, acho que me acostumei. O importante, afinal, era que os livros estivessem lá.

22.3.06

Descobri ter cometido uns erros crassos na minha diagramação do livro. É incrível como você não entende nada de um assunto até lidar com ele na prática. Problemas que você nem sabia que existiam.
Apenas, do fundo da minha ignorância, bati o pé pela New Baskerville no corpo do texto.
A má notícia é que esse livro ainda vai demorar pra sair. Não por minha causa, vou começar a trabalhar nele o mais rápido possível. O problema é a situação financeira da editora. Olha, se querem mesmo ajudar esse meu livro a sair, vão comprando outros livros da 7Letras. Vou recomendar alguns que já li e gostei muito, não pouco:

Azul e dura - Beatriz Bracher
Quer se angustiar? A vida não está dura o bastante pra você? Então esse livro é pra você, beibe.
Não, brincadeira. Este livro é foda por vários motivos e tenho vontade de fazer um altarzinho pra ele.
Sabe toda essa merda de crítica antiburguesa que tentam fazer e não dá certo? Esqueça. Essa aqui, talvez por ser feita de dentro, não só deu certo como realmente muda algo na sua cabeça. Você sai desse livro diferente. Foi um texto dessa autora que gerou o filme Cronicamente inviável.
Gosto especialmente das partes em que a personagem principal, depois de atropelar uma deficiente, tenta se declarar culpada na delegacia e ninguém deixa - o marido, o advogado, o delegado - todos lhe assegurando a impunidade quase à força.
Também o trecho na favela, quando ela vai com uma equipe sem-noção fazer um curta bonito de miséria cândida e o clima fica uma merda, agressivo, debochado, tenso, entre os estudantes bacanas e a pobreza esculachada.
Leiam.

O caçador de barangas - Sidney Garambone
Livro de contos. Novamente, sabe aquele tipo de humor que é vendido como "genuinamente carioca" mas 1) não faz ninguém rir 2) é, na realidade, uma sucessão de punhetices do autor contando suas estripulias sexuais no formato alter-ego e tamanho pôster? Não é esse! É um humor entranhado no Rio de Janeiro, mas inteligente e crítico, sem deixar de ser realista. É bem escrito. É um raro tipo de conto que fica em sua cabeça muito depois de lido. A praia do Flamengo nunca mais parecerá a mesma pra você, garanto.

Tudo no timing - David Ives
Peça de teatro em esquetes. Deus sabe que eu não leio peças de teatro depois daquela do Sartre para aprender francês, mas fiz bem em abrir uma exceção para essa. Tem aquele humor bem anos 90, às vezes mais Friends, às vezes mais Seinfeld.

20.3.06

Dois livros bons de ler, embora profundos como um prato de sobremesa

1. Dicionário de nomes próprios - Amélie Nothomb

É a história de uma menina chamada Plectrude à qual se diz, martelantemente, estar reservado um destino fabuloso.
Comprei esse livro numa bienal e realmente gamei nele. Tem tantos elementos que me atraem que nem sei como começar. Fábula, destino, coincidências inexplicáveis. É bem traduzido pra caramba.
O problema dele são os comentários. Parece que a autora não resistiu à glosa; deixou comer solta. Notas explicativas demais ao leitor, como uma professora de primário. Se o leitor está desacostumado a ler, o livro deve lhe parecer uma redonda perfeição. Eu enxerguei isso como arestas.

2. A miniatura - Elisa Palatnik

Este é um caso peculiar. A foto de capa me chocou de tão boa, e o nome idem. Só nisso já senti a conexão com o tema do meu livro novo - homem solitário, sem emprego fixo, metódico, obcecado por uma mulher. Fui procurar as informações de contracapa e orelha, pressurosa, julgando - querendo - poder estar diante de uma obra-prima. Mas o jeito como a orelha estava escrita já denunciou: isso aqui vai ser um livro legal. Apenas legal.
E realmente o livro era muito legal; gosto especialmente da cena em que Emílio janta com Inês - "Inês odeia muitas coisas." Aí, mais adiante, tem uma frase de que já não gosto. E um pouco antes também. (Eu também odeio muitas coisas.)
Esse é o problema, a irregularidade. Cenas realmente boas e outras ah, tá, já vi esse filme ou que parecem, hum, "amadoras" talvez fosse uma boa palavra. Mas o objetivo não era esse mesmo (ser brilhante), pelo que pude sentir.

Esses dois são bons livros para dar para aquelas pessoas que você gostaria que lessem mais. Lembram um pouco o Cão de briga, porradaria filosófica roteirizada pelo Luc Besson. Assisti com o JP e tivemos o seguinte diálogo nos créditos:
- Gostei, mas sei lá - achei que iria mais fundo nas "questões filosóficas".
(Admiro pessoas que sabem colocar aspas no que falam sem ter que fazer o gesto com os dedos.)
- Sim, mas veja por esse lado: o jiujiteiro que veio pra ver o "filme de porrada" vai sair do cinema um pouco mais iluminado...

19.3.06

monster in my parasol

Esse meu hábito de deitar na varanda ouvindo ipod com tudo apagado está me deixando muito corajosa. Tenho até re-jogado Heretic fora do god-mode - sim, eu ou matava todos os monstros com o código "massacre" ou me invulnerabilizava com o "quicken", porque do que eu mais gostava era explorar o ambiente e decifrar as charadas (por que eu nunca tentei ser hacker?), ter que ficar matando monstros era meio tedioso. E mais - estou achando fácil. Depois que você realmente domina os controles e aprende a se esconder das rajadas de energia, é moleza.
Engraçado que, ao contrário do Duke Nukem ou Tomb Raider, nos quais nunca senti grandes necessidades de trapacear, Heretic me dava medo. Eram todos aqueles demônios. Aliás, era o único jogo permissível à minha consciência pentecostal à época (96/97). Apesar do nome marqueteiro, Heretic era justamente um guerreiro da luz enfrentando as trevas - milhares de demônios pra matar com armas angélico-medievais. Uma espécie de RPG de Jesus.
Anyway, o negócio é que o susto passou e resolvi jogar Silent Hill, que ouvi dizer que é bem mais assustador. O argumento dele vai até gerar um filme de terror.
E aí é que está: talvez Silent Hill não vá me assustar, porque filmes de terror me entediam desde pequena. Pelo menos aquele determinado tipo de filme de terror - Candyman me fazia bocejar, Chucky idem, pode pôr aí os do Freddy e do Jason também. As outras crianças chegavam e diziam: cê viu ontem, passou Candyman! Se você chamar ele três vezes em frente ao espelho... ou dizem que o boneco do Fofão é o Chucky!, iadda iadda iadda.
E o outro tipo de filme assustador, pasme, não chegava a me dar medo, e sim me fascinava. Algo como modelos a serem seguidos. Uns exemplos: Halloween III (o sem o Michael Myers e com a musiquinha irritante, happy happy halloween silver shamrock), o da Drew Barrymore pequenininha com o gato preto e o duende da asma, e aquele em que ela soltava bolas de fogo que nem o pai, Firestarter. E Beetlejuice, cacete, que supostamente devia ser uma comédia, esse sim me assustava por parecer com os meus sonhos.

17.3.06

Ontem entraram duas abelhas aqui em casa, uma por vez. Uma eu consegui fazer atravessar a janela, a outra tive que borrifar inseticida. Mais tarde, veio uma figurinha de abelha no biscoito que abri. Pouco depois, ligo a TV e me vem uma propaganda do PHS, Partido Humanista-Socialista (que se autointitula "cristão e laico" - ??), cujo logotipo, uma abelha, aparecia atrás de todos os candidatos. Pouco depois, mudo de canal e vejo uma propaganda da TV Vanguarda que começa, adivinhe, com uma abelha cheirando uma flor.
Se eu acreditasse em sinais, interpretaria isso como um sinal divino me mandando trabalhar - e então o ignoraria.
Dois p.s. pra erros que cometi nos posts dimensionais: no mais recente, onde se lê "direção" leia-se "sentido"; e, no mais velho, minha projeção para a visão do horizonte está completamente irreal. Imaginei uma cúpula.

16.3.06

Nossos amigos bidimensionais (espaço pra esticar)

Aquela história das dimensões ainda vai dar pano pra manga. O que aconteceu naquele dia foi a impressão de outra direção (além das duas) para onde as coisas poderiam se esticar. Na realidade, deve ser tudo muito esticado e muito feio. Nós devemos ser feios. Vivemos dentro de um caleidoscópio. 360 graus são apenas uma fatiazinha.

Um de meus livros preferidos, Será que Deus joga dados? (Ian Stewart), sobre a teoria do caos, resume bem a questão.
(...) vivemos no bom e velho espaço de três dimensões. (...) Porque nosso espaço físico se limita a si mesmo dessa maneira é um mistério.

15.3.06


Christina's world - Wyeth
Angustiante. Parece um pouco com meu livro novo.

14.3.06

Educação Sexual

Vou comprar meu lanche naquele canto porque é melhor, e essas cousas simplesmente caem em meus ouvidos. São alunas de Psicologia ou Serviço Social e pelo menos do segundo período, já que se conhecem e estamos em início de semestre.

1.
Gênia 1: Ela tem namorado? Porque estou querendo arrumar uma namorada pro Felipe.
Gênia 2: Ah, é. Dizem que ficar virgem faz mal.
Gênia 3: É, dá câncer.

2.
Gênia 1: Ela fez aquela operação de ficar virgem de novo.
Gênia 2: Períneo.
Gênia 1: É, períneo.

Ou essas moças são intelectuais refinadas e cruéis a ponto de debaterem completas tolices por dias inteiros, com as caras mais sérias, os corolários mais cretinos e a unanimidade mais escandalosamente unânime, para terror dos circundantes e diversão pessoal, ou... bem.

11.3.06

Rapaz, depois que comecei a ler Ada or Ardor de Nabokov, ele tem escrito o roteiro de todos os meus sonhos com narração. Como o da família rica em perpétua e jamais definitiva decadência que engana o imposto de renda não declarando todas as compras que fazem na Nelson's, loja de badulaques inúteis pra ricos. O patriarca e sua coleção obsessiva de quadros de um determinado pintor, conhecida por abrigar diversas versões praticamente idênticas de uma mesma obra. A única em que ele não tem conseguido pôr as mãos é a de um velho desafeto que, mesmo falido, odeia o suficiente para não lhe vender a "Brasil Concreto" - uma obra em tons de cinza e verde-musgo-escuro que retrata um mapa do Brasil cinzento, com a fronteira em grossos contornos pretos, e arroios cinzas quase tão grossos quanto representando rios fictícios que teriam fabricado a fronteira dos estados. Eu faço a "cabana girl" da família e creio que, além disso, alpinista social sem escrúpulos.
Eu estava olhando a paisagem da varanda quando me bateu uma impressão muito estranha.
Tem algo de errado e esquisito com o espaço em três dimensões.
Quer dizer, o jeito como a luz bate nos objetos e depois em seus olhos. Eu fiquei pensando: se estivesse num andar mais alto, os prédios não pareceriam mais uma massa tão compacta de concreto - eu os veria de cima - e o horizonte seria "menor". O planeta é em curva e a luz não.
Mas isso não é o grave. Era a disposição que as coisas aparentavam ter. Eu quase soube como deveriam ser diferentes por um segundo. Como se estivesse olhando para uma projeção cartográfica (distorcida, duh) da realidade.

10.3.06

Toda errada



O Chaves foi chutado para fora da grade do SBT. A boa notícia, no entanto, é que estão passando Sick Sad World no lugar. É Ver para Crer.
Vi isso aqui e resolvi testar. Você coloca seu Winamp no shuffle e os títulos das músicas serão as respostas.

Como o mundo me enxerga?
Música: Sha la la la la
Artista: Vengaboys
Comentário: Sei que devem me achar meio louca. Especialmente por gostar de Vengaboys & Ace of Base.

Eu vou ter uma vida feliz?
Música: Do you know how to waltz?
Artista: Neotropic
Comentário: É melhor aprender a valsar rapidinho.

O que meus amigos realmente pensam de mim?
Música: So long
Artista: Collide
Comentário: Duplo sentido: "adeus" ou "muito longo". Mas isso eu já sabia.

As pessoas têm desejos sexuais secretos por mim?
Música: Gay bar
Artista: Electric six
Comentário: Brokeback-y. Realmente secretos.

Como posso me fazer feliz?
Música: Group four
Artista: Massive attack
Comentário: Será um ménage à quatre? Ou é pra jogar no bicho?

O que devo fazer da minha vida?
Música: Time out from the world
Artista: Goldfrapp
Comentário: Eu já faço isso (dou um tempo do mundo).

Por que a vida tem que ter tanta dor?
Música: Sounds like a melody
Artista: Alphaville
Comentário: Que dor? A vida "sounds like a melody". Pra mim faz sentido. Ou então, a dor "sounds like a melody".

Como posso maximizar meu prazer durante o sexo?
Música: Marcelo o caralho, enfia o pastelão no cu
Artista: Furacão 2000
Comentário: Estou chocada, deveras. Jamais imaginei.

Eu vou ter filhos?
Música: A number of names
Artista: Sharevari
Comentário: Eu realmente tenho uma séria dúvida quanto aos nomes da criança, e vivo mudando. Só espero que isso não signifique que eu tenha várias crianças. Ou que uma ganhe um nome muito comprido como o da Princesa Isabel.

Eu vou morrer feliz?
Música: Regina
Artista: Sugarcubes
Comentário: "Regina" quer dizer rainha, então creio que sim.

Qual seria um bom conselho para mim?
Música: Celestial annihilation
Artista: U.N.K.L.E.
Comentário: Certo, vou tentar isso.

O que é a felicidade?
Música: Diesel power (Dirtchamber remix)
Artista: The Prodigy
Comentário: Comprar um caminhão, talvez? Ou um gerador?

Qual é meu fetiche favorito?
Música: Voodoo people (Dust Brothers remix)
Artista: The Prodigy
Comentário: Hohohohoh.

Como serei lembrado?
Música: Wake up
Artista: Rage against the machine
Comentário: Uau! Sou o NEO!
(Ou então, "acorde, idiota, você não será lembrada".)

8.3.06

Lembrem-se: hoje é dia de B!zarrice. Às 10 horas da noite, na Rua da Constituição 34, Centro, só 10 reais; 8 reais com filipeta.
Sou o tipo de pessoa que vive com pouco e que não se importa a ir uma biblioteca, desde que ela seja completa. Então, gostei da idéia que o JP me disse existir em Miracleman, o ser superpoderoso que governa o mundo numa HQ. Ele decreta o fim do dinheiro e que as pessoas não vão mais precisar trabalhar: todas receberão o básico. Quem estiver a fim de trabalhar ou quiser mais do que o básico, pode trabalhar.
Mas esse é o tipo de coisa que não dá certo. Tem gente que precisa de uma obrigação pra andar na linha. Vide a idéia de Deus. Agora que as pessoas já não são criadas na religião, mas ainda são manés o bastante pra não entender que coisas como "trabalhar para um bem maior" e "tratar o próximo como gostaria de ser tratado" são uma questão de sobrevivência e não coisa de otário, o mundo parece ficar cada vez mais inabitável. Nietxxxzsche, seu puto.

7.3.06

Vírgulas no lugar errado ou em lugar nenhum: acho que foi o que mais doeu.
Isso que disse abaixo parece com os erros ortográficos, de paralelismo e tantos outros que pude inventar no blog da Maria Luiza (ela é "matemática", não "português"). E como se não bastasse a dor de ter vituperado minha língua-pátria, inda vai ter gente me chamando de analfabeta por causa disso. Eu sei.
Quando vou pruma festa e fico virando a cabeça e olhando com vagar, freqüentemente escorada pela parede, babaquinhas pseudo-preocupados me perguntam se está tudo bem comigo.
Quando vou pruma festa e danço danço danço feito doida 7 horas seguidas sem olhar pra ninguém, viciados na seca me perguntam se sei quem tem bala.
Não sei se devo ser grata por certos comportamentos serem, hoje, desculpados/explicados pela droga ("ah, tudo bem, ela deve estar doidona") ou se fico puta por, exatamente, tudo ser explicado com rótulos céticos como esses (tipo religião durante a Idade Média). Claro, fazer como todo mundo e fingir que é normal (ou tomar drogas pra fingir que é normal) na boate não é uma opção.

4.3.06

Bem bacana a matéria sobre o André Sant'Anna hoje no Prosa e Verso. Ele tocou em pelo menos três pontos em que acredito.

- Chocar por chocar não está com nada: você acha que Nabokov escreveu sobre ninfetas para chocar ou pra fazer pensar? Eu acho que ele escreveu para fazer bonito a partir de coisas que muito ocupavam sua cabeça; cada escritor tem sua obsessão (dizem que as dele eram ninfetas e borboletas, presas voláteis) e às vezes o peso delas é grande.

- Sexo por obrigação: aquele postzinho antigo sobre produtividade de que muito me orgulho, e a frase de Maria Luiza no livro novo:
Me disseram que o sexo tinha um ponto final e eu acreditei. Se soubesse que não, poderia ter feito circo ou balé.

- Obrigações obrigatórias ("porque todos me dizem que devo fazê-lo"): Trainspotting e Clube da Luta já nos falaram sobre isso, apresentando "soluções" distintas. Mas leiam também isso aqui, que resume muito do que penso sobre o mundo do trabalho atual e flerta com essa história de papéis obrigatórios, escravizantes.

3.3.06


Estou fazendo, com mais uns amigos, uma festa chamada B!zarrice. Vai tocar basicamente coisas toscas voluntárias e involuntárias. Vai ter a pista - dançante - e um lounge brega e lento.
Vai ser 4a feira, dia 8 de março, no Espaço Constituição (Centro). 10 reais, 8 com filipeta/na lista. Mais informações e desconto: b-zarrice.blogspot.com ou na comunidade do Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7876498

2.3.06

.strict.

Actually, eu ia falar sobre a outra face destes fenômenos e um comentário me decidiu a deixar de preguiças. Eu ia falar da vibe criada artificialmente, denominada hype. Dos aditivos pros cavalinhos correrem mais pela pista... de dança. Dos DJs e escritores furrecas admirados por terem adubado seu som/obras/comportamento (pode incluir blog aí) com baboseiras populistas, obviedades exageradas. Um exemplo: assobios de kill-bill. Certo, todos gostaram do som no filme e quando fiquei com minha avó no hospital ouvia garotos 18-25 assobiando isso (eles queriam ser a Daryl Hannah). Mas você pega isso e remixa com um bate-estaca superbásico e todos vão gostar mesmo que venha depois de um axé e antes de um forró.
Isso se entrelaça com o fato das pessoas quererem gostar de alguma coisa a ponto de se forçarem a isso. Estou chegando à conclusão de que as pessoas querem gostar porque têm que se divertir e não conseguem. Ou porque têm um certo espaço de tempo pra se divertir e não conseguem. Ou porque os amigos todos recomendam e gostam de Fulano e a pessoa não tem personalidade pra dizer: cara, eu não consigo achar Fulano legal (rápido, sincero, indolor). E também não sabem procurar coisa diferente e acrescentar: prefiro Sicrano.
As pessoas, estimuladas desde crianças a ignorarem o que se passa dentro de suas cabeças para maior "liberdade de ação", caminham sustentadas por fios. Imagino onde vão parar.
Essa é a era em que o relógio biológico não trabalha de graça. Caminha a chibatadas.

1.3.06

O conceito de vibe é algo interessante... a interação positiva entre público e DJ. O DJ começa a fabricar seu som na média - o público acompanha, colaborando, respondendo a cada ondulação de ritmo ou novo acréscimo - o DJ vê, resolve ver como eles vão dançar ou vibrar com determinado som, testa - o público ergue os braços, sorri, entendendo - o DJ fica estimulado, começa a se sentir inspirado, insere novos temperos na mistura, o som melhora - o público vibra, grita, aprova, ondula. A soma das partes é maior que o todo.
O povo ajuda o DJ e o DJ ajuda o povo. Um ping-pong artístico. Criação de energia. Papo místico, bicho.
Isso acontece através de concentração e acompanhamento. Agarrar num ponto e não soltar mais até o fim. Ser capaz de retomá-lo na volta das pausas para água. Déficit de atenção não ajuda nessa hora.
Acontece em outras áreas também, talvez todas, ouso dizer. Penso na literatura, com autores que alguns chamam de irregulares e outros adoram. Claro que é irregular, é humano. As experiências que o autor propõe dependem da colaboração do público - da vontade de gostar. Se você não ouvir "ahã, ahã"* na sua cabeça durante a leitura, você pode achar até o livro correto, legal, interessante mas jamais o apontará como "magistral". Ele empurra a agulha do lado de lá do pano; você enfia de volta. Os novos temperos que o autor experimenta podem não parecer os mais corretos, mas você, leitor colaborativo, entende porque ele fez isso; entende porque ele tentou. É o estilo dele, você defende. Você está concentrado e de certa forma preso; você defende a si mesmo, também.
É um relacionamento diferente de uma amizade, mas possui uma semelhança notável.

*"ahã" de "estou te acompanhando", não de "concordo plenamente".