4.5.06

Eu penso penso e não consigo entender. Ou melhor, entender eu posso, mas me recuso.
A verdade versus a mentira na literatura de hoje. (Este é o título.)

Acompanhem aqui. Um escritor A que se denomine 100% autobiográfico terá mais sucesso do que um B que alegue escrever pura ficção. Prefere-se fofoca factual a boato bem-contado. O mundo hoje é triste. Triste e burro. Afinal, ao admitir que o que escreve é pura ficção, o escritor B está na verdade dizendo (ouçam!): "eu sou um bom mentiroso". Se B é um bom mentiroso, pode estar mentindo ao dizer que escreveu pura ficção. E, se não tiver escrito pura ficção, na verdade não é bom mentiroso. E se não é bom mentiroso, na verdade não pode ter escrito pura ficção. (É possível ir em frente e derivar mais bullshit!, vá e entre em um torneado parafuso.)
É desse vácuo, desse ilusionismo absurdo, que se tem medo. Criação a partir do nada, geração espontânea. Me ressinto que a verdade, plana e confortadora, tenha mais sucesso que a mentira. (Este é o espinho.)
Nem um pouco deste intricado e interessante paradoxo resta em pé no caso A. O que resta são bocas em Ó quando A passa e A declarando que o preconceito e a inveja não o incomodam, para em seguida desaparecer a oeste do horizonte midiático.