21.7.06

digressão

O meu maior medo é, quando e se eu for pruma outra editora, que desbastem demais o meu texto.
No livro novo, uso silencio na acepção hispano-lynchiana, sem acento. A maioria dos copidesques colocaria o acento no primeiro e, acusando um erro evidente. O problema é que copidesque é uma coisa que as editoras rolam os olhos de vontade de não fazer. Acabam pagando a alguém que vai enformar as frases e recalcar tudo para as séries usuais. Ou seja, se eu escrever "medicamente sóbrio" como no meu livro novo, eles vão mudar para "clinicamente sóbrio", que é o certo, é o que todo mundo diz.
Uma vez fui entrevistada por uma editora que queria um reversor de copidesque, ou seja, alguém com o tino pra recusar certas alterações feitas pelo copidesque, mantendo assim o "estilo pessoal" do texto. Acho que só não fui escolhida porque peguei o ônibus errado e fui parar em Sulacap, chegando uma hora e meia atrasada para a entrevista. Aliás, sempre que fico excessivamente obcecada por obter um cargo qualquer (geralmente funções estranhas como essa) acabo cometendo alguma tolice que me tira do páreo. A expectativa me atrapalha. Quando ouço não aos outros, mas à minha nonchalance natural, obtenho resultados muito melhores.
(Eu sei que não há futuro como em God save the Queen, então praquê me preocupar? Praquê pagar o INSS se o Lula de 2055 não vai honrá-lo? Praquê fazer concurso se algum presidente, por ser bom demais ou mau demais, vai despedir funcionários públicos em massa em 2030? Fora o perigo de alguma ditadura mandar todos os intelectuais para o gulag. Eu, hein. Apenas economizo para uma casual fuga do país.)