14.8.06

Distopia

O crime perfeito não precisa ser aquele que não é descoberto; basta ser aquele que não pode ser previsto. Seu perpetrante tem um histórico impecável e nenhum motivo para cometê-lo, nem mesmo a própria comichão de "cometer o.crime perfeito".
Vou descartar aqui termos como história, evolução, progresso, que não são do que estou precisando. Mas a "caminhada do homem pelo tempo" tem sido feita sempre na oscilação entre auto-conservação e auto-destruição.
Tem essa concepção agora de biopoder, que é o poder "movido a nós" (lembre-se dos agentes da Matrix, que incorporam em pessoas muito imersas no sistema.)
Levar uma vida, digamos, comodista, sem acreditar em causas, e virar as costas ao sistema quando ele mais precisasse de nós seria um crime perfeito. Porque seria suicídio. Ilógico. Caótico. Afinal, ao cometer esse crime perfeito nós perderíamos toda a nossa comodidade arduamente amealhada. E seríamos infelizes e mortos.
Se conseguirmos nos adestrar a sermos omissos o suficiente, isso deve acontecer.

(Comendo Debord e arrotando Deleuze. Eu não tive um panorama claro de Deleuze até ler o parágrafo 78 de "A sociedade do espetáculo", o qual estou lendo obrigada e achando um tanto preso a conceitos ultrapassados e inúteis. Da contestação de lê-lo saem palavras-chaves de tese como "caos", "não-lógica" e "ação-e-reação". Sabendo eu que isso tinha a ver com o Deleuze, googlei e topei com esse texto aqui que me fez sentir atrasada trinta anos, mas tudo bem. Ah, e ilogicamente, também pensei muito em Bertrand Russell.)