9.8.06

Não sei porque a África entrou na moda assim de repente. Aliás, não só a África, mas o Oriente e o Oriente Médio. Será que é porque os migrantes das ex-colônias imperialistas, agora já estabelecidos em países desenvolvidos, querem consumir literatura "nativa"? Não seeei. Sei que coisas como O outro pé da sereia (Mia Couto) e Feras de lugar nenhum (Uzodinma Iweala, sim, o nome é esse mesmo) têm merecido espaço em todos os espaços e, creio eu mesmo sem lê-los, não desmerecidamente. Esse último (leiam só a sinopse) é de uma ramificação diferente, um pouco folclórico-mágica.
Deste mesmo ramo, o que tive vontade de ler, e li, foi o The icarus girl, de Helen Oyeyemi. Gostei da capa e peguei na livraria. Aí gostei da sinopse: pronto. O preço da edição importada era pornográfico. Decidi esperar sair aqui.
Daí a duas semanas, vejo ele na vitrine: A menina ícaro. Depois de exultar por não terem traduzido o título (valha-me) como A garota ícaro, eu o comprei.
Acho que eu estava esperando demais, porque não gostei tanto. Gostei de alguns detalhes. Gostei da autora não ter explicado tanto tudo. Não entendi porque menina ícaro no final (aí parei para pensar: é que ela "voou perto demais do sol" e "se queimou"). A tradução ficou boa em alguns pontos, mas ruim em outros. Devem ter dividido entre vários tradutores sem uniformizar o estilo no final. É de uma editora nova, a Intrínseca. Sim, como produtora editorial eu reparei que o projeto gráfico foi suuuuper ousado e impresso na GeoGráfica (os trocadilhos!). O que não entendo é porque as fotos de capa brasileiras desses livros místico-africanos têm que ter crianças negras tristonhas e sombrias na capa. Certo, as histórias são tristonhas e sombrias, mas eu não colocaria um garotinho branco de cara fechada perdido nas trevas na capa de um David Copperfield, por exemplo. Enfim, trocando os capistas e tradutores a Intrínseca vai bem.