31.10.06

Esta lista está no meu iPod sob o título "medonho". Não são músicas depressivas, mas simplesmente que te tiram de si, o que pode ser muito bom.

1. Boards of Canada - Tears From The Compound Eye
2. Wire - Let's Panic Later
3. Arovane - Blacksoil
4. Boards Of Canada - Carcan
5. Sao Paris - notebook of dreams
6. david bowie + massive attack - nature boy
7. Autechre - Rsdio
8. Prefuse 73 - silencio interlude
9. Monolake - Wasteland
10. Deftones - Lucky You
11. Wire - Small Electric Piece
12. The Beatles - I Want You
13. underworld - please help me
14. depeche mode - it's no good
15. Boards of Canada - Olson
16. evangelion - do you love me
17. Boards Of Canada - Rodox Video
18. Boards Of Canada - Concourse
19. Thom Yorke - Cymbal Rush
20. Broadcast - Minus One
21. Nathan Fake - Falmer
22. Vector Lovers - Shinjuku Girl
23. atari teenage riot - deathstar
Sonhei que o Brasil "visível" era do tamanho da Baía de Guanabara. De um lado, numa espécie de península, havia as casas dos ricos, com uma enorme Iara de pedra esculpida por Tom (!) para Vinícius. O shopping center era Brasília, cheio de escadas-rolantes íngremes que não levavam a lugar nenhum. No centro da Baía, uma torre branca polida, com um ou dois locutores esportivos que olhavam para baixo, narrando como uma partida de futebol. Eu olhava aquilo e saía cantarolando: television... rules the nation...

28.10.06


Você vê que a folia é braba.

Finalzinho de Alive, entrando a Superheroes com Human After All e emendando em Rock'n'roll.
Daft Punk Rules the Nation

Bem... éeeh... foi o melhor show da minha vida.
Quem me conhece sabe que não saio de filmes dizendo que foram os melhores filmes da minha vida, nem de shows dizendo o mesmo. Então este é sem favor O MELHOR SHOW DA MINHA VIDA, fazendo com que o do Leftfield (atual 2o) e o do Orbital (atual 3o) perdessem uma posição no ranking.
Por quê?
Simplesmente porque os robozinhos apostaram no vibe (a interação entre o DJ e o público) e não numa fórmula fechada. Não descansaram até ver o público comer na mão deles. Trabalharam duro (Harder, better, faster, stronger). Porque misturaram músicas muito fodas com músicas muito fodas, duas ou três de cada vez, para caber mais. Teve Alive, Superheroes, Rock'n'roll, Prime time of your life, Aerodynamic, e todas as manjadas como One more time e Musique.
Já vi shows com um visual impressionante, mas um visual que engessava a apresentação, obrigando o grupo a seguir um roteiro. Foi o caso do Orbital. Não foi o caso do Daft. A parte visual era programada para se comportar junto com a música: diminuía de ritmo com ela, hesitava com ela, parava com ela.
Enfim, juntei meus oito anos de Aliança Francesa e berrei a plenos pulmões: Allez les robots! Allez! Bravo! O público foi muito caloroso, embora eu tenha percebido que boa parte não entendeu o quão foda foi o show que tinha acabado de presenciar. Mesmo assim, surtiu efeito: impagável os robôs mandando beijinhos.
Quando saí de lá, eu não conseguia fechar a boca ou desarregalar os olhos. Estava em transe hipnótico, estado alfa, sei lá. É o primeiro show de que saio com gosto de quero mais. Não foi o bastante. Se os robôs vierem aqui de novo, eu vou de novo. Ah, e que pecado: não teve bis.

26.10.06

arquivo morto

Índice de matérias interessantes/toscas que encontrei em minhas pesquisas na Biblioteca Nacional. Os que não têm preço estão em negrito.

Fatos & Fotos
Diamante Hope – 18/jan/68 pg. 40
Batman tosco cancelado – 15/fev/68 pg. 14
Esquerda festiva (fotos ótimas) – 15/fev/68 pg. 40

Cruzeiro
Racismo na Copa de 58 - 01/01/65 - pg 86 a 91
Bardot em Búzios - 16/01/65 pg 106 a 110
Orson Welles - 30/01/65 pg 100 a 103
Ar engorda - 13/02/65 pg 66
Malba Tahan e Ossian - pré JT Leroy - 13/03/65 pg 82
Rui Barbosa - 15/05/65 pg 88 a 94
Cinema Novo 31/07/65 pg 14 a 16
Londres - 07/08/65 pg 14 e 15
Astrud Gilberto - 21/08/65 pg 88 a 91
The Beatles - 28/08/65 pg 106 a 112
São Tomé das Letras (meca dos dropouts) - 04/09/65 - pg 96 a 106
Fotos do basquete feminino - 02/10/65 pg 102 a 106
Onibaba ("A Mulher-Diabo") - 01/10/65 pg 111 e 112
Tóquio - 09/10/65 pg 19 a 28
Etiqueta sexual para garotas jovens (comparar com a da Revista O Globo ou da Querida) - 09/10/65 pg 44 a 46
Princesa prende o dedo na porta - 09/10/65 pg 102
Um misantropo (crônica de Austregésilo de Athayde) - 23/10/65 pg 26
Elizabeth Taylor - 23/10/65 pg 46
Wilson Simonal - 06/11/65 pg 22 a 25
Norte de Tóquio - 06/11/65 pg 44 a 52
Pingüim extraviado - 06/11/65 pg 99
Diretor do Pedro II manda garotos cortarem o cabelo - 06/11/65 pg 118 a 121
LSD - 20/11/65 pg 42 a 56
Surf - 20/11/65 pg 92 a 96
Bondes eram salão de carnaval dos pobres - Especial 4o Centenário do Rio pg 57 a 72
Cartunistas do Rio Antigo - Especial 4o Centenário do Rio pg 73 a 80
Anúncios do Rio Antigo - Especial 4o Centenário do Rio pg 110 a 115
Cafés - Especial 4o Centenário do Rio pg 116 a 119
J. Carlos - Especial 4o Centenário do Rio pg 131 a 136
Gêmeas-espelho - 04/12/65 pg 14
Foto de modelo com cara de nojo dos pivetes - 04/12/65 pg 44
Matéria sobre praia - fotos excelentes - 04/12/65 pg 76 a 85
Brasileiro não sabe escrever romance (crônica) - 11/12/65 pg 34
Calor - pijânio - 01/01/66 pg 91
Somerset Maugham - 08/01/66 pg 84 a 87
Playboys em extinção - 08/01/66 pg 100 a 105
Chacrinha - 29/01/66 pg 64 a 68
Nietzsche e D. Pedro II bateram papo num trem (crônica) 26/02/66 pg 50
O nude-look - crônica de Rachel de Queiroz - 05/05/66 pg 114
Roberto Carlos 08/05/66 pg 106 a 112
Roberto Carlos 23/06/66 pg 40 a 46
Wanderléia 06/07/66 pg 56
José que era Joana - 12/09/66 pg 16 a 18
Xifópagos - 1a edição de outubro de 66
Ilha misteriosa - 29/10/66 pg 38 a 43
Sean Connery fazendo careta - 05/11/66 pg 38 a 43
O pequeno entojo (ator-mirim) - 12/11/66 pg 30 a 33
Lacerda aponta os 10 pecados da "Revolução" - 10/12/66 pg 10 a 11
Borg, o espião que teria inspirado Bond, critica Bond - 10/12/66 pg 100 a 103
Propaganda da Coca-Cola com os pombos 17/12/66 pg 109
Rubi no umbigo - 14/01/67 pg 42 a 45
Cópia malfeita de James Bond rodada no Brasil - 21/01/67 pg 72 a 75
Holocausto dos cães de Parati (RJ) - 04/03/67 pg. 48 a 51
Empregadas sem salário mínimo - 18/03/67 pg 48 a 51
Ramos pré-procissão - 25/03/67 pg. 52 a 57
Festival de Inverno (Japão) - 15/04/67 pg 44 a 49
Coco Chanel ataca a mini-saia - 22/04/67 pg 20 a 23
D. Pedro II, este galinha - 22/04/67 pg 114 a 121
Zé do Caixão faz teste com atores - 27/05/67 pg 36 a 39
Iê-iê-iê vs. bossa nova - 12/08/67 pg 130 a 133
Luz del Fuego morre - 20/08/67 pg 4 a 10
História da bossa nova - 02/09/67 pg 20 a 27
Canecão - painel de Ziraldo - 16/09/67 pg 91 a 93
Zé do Caixão faz mais testes com atores - 04/11/67 pg 68 a 73
FEBEAPÁ na MPB - 18/11/67 pg 152 a 153

18.10.06

onde comprar o "A feia noite"

eu que fiz a capa

Compre no site da editora ou no da Livraria Cultura. No Rio de Janeiro, ele pode ser encontrado na Timbre da Gávea e na livraria da Casa do Rui Barbosa. Em breve, o livro também poderá ser comprado nas Travessas da Rio Branco e do Ouvidor, e também nos sites Submarino e Lojas Americanas. Quem for de São Paulo deve tentar a Livraria Cultura, é claro.
Uma coisa que talvez eu tenha esquecido de frisar é que em "A feia noite" eu combato a fama de cidade solar do Rio de Janeiro, confirmada pela bossa nova, por exemplo. Eu idealizei uma cidade gótica, um lugar sombrio, assustador, que ainda assim não deixa de ser Rio de Janeiro...
O que quero dizer é que nossa brasilidade não reside em sol, samba, mulata e futebol. Dá para ser inquestionavelmente brasileiro mesmo sem apelar para esses clichês. Eu não digo onde se passa o romance, mas se você mora aqui no Rio, você reconhece esta cidade. Se não reconhecer, aí vai pensar numa história universal, o que também é bom.
O negócio é que sempre que se fala do "verdadeiro Brasil" se cai nessa de regionalismo: índios, negros, nordeste, pobre. Já se cristalizou tanto isso que os ricos 1) fetichizaram o pobre etc. transformando-o em consumo 2) entenderam que já que o "verdadeiro Brasil" é o pobre etc., eles não fazem parte do mesmo, e têm que manter as coisas como estão para conservar o pobre, pobre.
E o problema é que o Brasil mistura tudo, inclusive pessoas branquelas. Essa diversidade é que nos integra e, no entanto, ninguém fala dela. Não adianta você querer pegar o "homem médio" ou um dos extremos, rico ou pobre; o Brasil não é estatística. Negar essa diversidade é excluir alguém.
paradoxal

Veja o que é o ambiente.
Eu não lembro de quase ninguém da high school. Mas eles sempre me reconhecem. Geralmente nos esbarramos em situações escrotas. Por exemplos, indies riquinhos que deixaram para decidir em quais shows do Tim Festival vão bem na boca do caixa (a fila aumentando atrás). A namorada vai embora primeiro, e enquanto o fulano cheio de botoques espera o extrato do cartão de crédito, vira pra mim e “Você estudou no Santo Inácio?”. No wonder, penso. Mas respondo “Sim.” – e imediatamente para o balconista – “Uma meia para o Daft Punk, por favor.” Eu nunca deixo essas tristes coincidências degringolarem em conversa.
Outro dia encontrei uma (são poucas) pessoa legal da high school. Claro que na época não podíamos admitir isso, mas em outras circunstâncias seríamos amigas. Pois bem, as outras circunstâncias chegaram. E é engraçado como lembrei até a grafia do nome da menina - incomum.
Na Biblioteca, eu reconheço rostos que só vi uma vez, mesmo sendo caxias e me concentrando nos jornais e revistas como deve ser. Porque pessoas que pesquisam têm potencial para ser legais, pelo menos já é uma pré-seleção. (Alguém devia avisar as meninas ingênuas que usar camiseta Nerd Pride na Biblioteca é redundância.)
Então é... sintomático. Eu não esqueço de quem não posso esquecer, esqueço quem é bom esquecer. Às vezes esqueço até de quem devia lembrar.

14.10.06

I wanna be... professional bean-spiller.
Eu sempre faço isso, "spill the beans" - "jogar no ventilador" seria uma tradução aceitável. Pior, acredito em fazer isso.
Queria ser aquela crítica literária durona, que diz com todas as letras que "X de Oliveira não passa de hype injustificável. Escreve mal.". Ou: "Y é uma coletânea de contos - não vejo porque o autor quis passá-lo por romance.".
Já pensou? Eu faria muitos inimigos, inclusive entre os amigos, sendo sincera. Mesmo que eu atenuasse, como as professoras do primário: "precisa melhorar".
Eu teria um assistente só para colar fita crepe no nome do autor - em todas as ocorrências, inclusive na lombada e dentro do livro. Prova cega - vinhos medíocres de vinícolas consagradas, tremei.
E eu faria dancinha da vitória quando encontrasse algo que pudesse elogiar. E as pessoas acreditariam nos meus elogios.

9.10.06

Meu Deus, será que as pessoas não sabem que não adianta mandar phishing para alguém que tem um cérebro?

8.10.06

marcado mesmo

Fiquei honrada e surpresa com a coincidência, mas o recado do lançamento do meu livro saiu no mesmo Prosa&Verso comemorativo dos 50 anos de O encontro marcado, de Fernando Sabino. Não sou tiete particularmente desse livro; e nele há dilemas que em boa parte não tive. Pelo menos não aos 21 anos, quando o li. Mas sou fã de Fernando Sabino em geral, de que li praticamente todas as crônicas aos 13 anos (pai mineiro).
Um cara inteligente que em certo ponto de sua vida toca em política e todo mundo considera imundo. Isto define tanto Fernando como Francisco, personagem do meu livro novo, A feia noite. Aliás, o nome do meu personagem, originalmente, era Fernando. Mudei por pudor, mas... fazer o quê? O encontro marcado é exatamente o tipo de bildungsroman que estou parodiando em A feia noite. Com carinho, é claro.
Eu disse na crítica que fiz de O encontro marcado (para uma matéria da faculdade):
A vida de Eduardo Marciano "termina" nos anos 50; hoje muitos já não nasceram sob a ditadura, ou pelo menos num tempo onde não se sentia seu peso. O Brasil antigo, empoeirado, causa sim aos jovens de hoje um certo asco; numa espécie de amnésia neurótica coletiva, fingimos que sempre estivemos brandindo celulares prateados, Honda Civics e presidentes de esquerda; mas o país não é só esse. O futuro não chegou, não. Ainda não saímos da roça. Um fio de Ariadne, o livro não titubeia em nos retraçar o caminho pelo qual viemos parar aqui; e a que custo.
Tirei dez nessa matéria - além de me divertir um bocado.

Naquele tempo era difícil enxergar opções. Hoje há um outro vácuo. Há quem ache que pode tudo, e desses há quem possa mesmo; e há quem não saiba o que deve poder, por excesso de opções, todas ruins.

"Nele há sua flora, sua fauna e, no meio, o abismo. Nenhum ecossistema saudável. Nenhum equilíbrio.
Não faz sentido. É claro que não. No dia em que fosse coerente não precisaria de adjuvantes químicos."
(Francisco se pensando em A feia noite)
"O encontro marcado", de Fernando Sabino

Meu pai, mineiro, cedo me providenciou alguns livros de crônicas do Fernando Sabino. Atirei-os a um canto e recusei-me a lê-los, porque julguei-os "chatos"; já mais velha, peguei-os por acaso e adorei. Não tinha graça antes porque eu não entendia as piadas. Assim, aprendi com Sabino que algumas leituras pedem amadurecimento.
Quando resolvi embarcar neste "O encontro marcado", procurei me apresentar o mais leve possível. Porém, não foi possível me livrar do peso da leitura das crônicas e da minha simpatia pelo escritor; no outro prato da balança, porém, havia seu mal-explicado ostracismo e a pecha de "fazedor de biscoitos" - alguém que só consegue escrever em tamanho pequeno.
Sabino parece ter escrito baseado nas próprias experiências, como em muitas de suas crônicas. E algo que preocupa após algumas páginas é exatamente isto: a semelhança com o ritmo das crônicas. O leitor se pergunta se Sabino, habitual nadador de piscina, conseguirá atravessar o mar sem se afogar. Porém, esta dúvida acaba por se dissipar: o mote do livro é exatamente este:
"Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro."
O autor Sabino, talvez como na própria vida, fez da suposta limitação de suas crônicas o ingrediente de um romance sincero, problemático e que o próprio autor deve ter detestado pelo menos durante um segundo depois de publicado.
Sabino vai mais longe (ou mais fundo) com "O encontro marcado" do que em suas crônicas. As emoções são mais perturbadoras e densas; os conflitos, mais expostos. Sem a obrigação de ser “engraçadinho” nem limite de espaço, ele produz altercações geniais. Aliás, o diálogo de Sabino é merecidamente usado e abusado: são páginas e páginas cheias de travessões à esquerda. Com isso, muito é deixado à interpretação do leitor - ótima qualidade em tempos de best-sellers que nada deixam à imaginação. Porém, há um pouco de falta de confiança de Sabino em si, ou no seu leitor; ou talvez, tenha caído na tentação de forçar uma interpretação. Às vezes a frase é cortada por uma explicação tendenciosa, como que a dizer: "olha aqui, Eduardo tem razão; esta pessoa se aproveitou dele/está contra ele, que está apenas se defendendo". Isto não é nada bom.
É notável a condução, o ziguezague dos assuntos. O romance está muito bem-amarrado. Todas as subtramas são consistentes, mas o melhor exemplo é o "caso da meretriz". Funciona muito bem; como se trata de um romance inspirado em fatos reais, a escolha da supressão ou não de fatos "triviais" é crucial. A narrativa deste caso aparentemente trivial durante a viagem ao Rio causa estranhamento no leitor (assim como o acontecimento real deve ter parecido a Sabino), porém seu reaparecimento contínuo na história causa uma verdadeira perturbação. É kafkiano; traz a idéia do "plano divino"; a dor da injustiça; um fantasma do passado - quem não tem os seus? - e muito mais.
É preciso falar um pouco sobre a "atualidade" do livro - se é que podemos chamar assim. O problema: é difícil enxergar o cenário do romance, o Brasil de ontem. A vida de Eduardo Marciano “termina” nos anos 50; hoje muitos já não nasceram sob a ditadura, ou pelo menos num tempo onde não se sentia seu peso. O Brasil antigo, empoeirado, causa sim aos jovens de hoje um certo asco; numa espécie de amnésia neurótica coletiva, fingimos que sempre estivemos brandindo celulares prateados, Honda Civics e presidentes de esquerda; mas o país não é só esse. O futuro não chegou, não. Ainda não saímos da roça. Um fio de Ariadne, o livro não titubeia em nos retraçar o caminho pelo qual viemos parar aqui; e a que custo.
Parece não ter sido a intenção, mas “O encontro marcado” é como uma luz trêmula a iluminar o passado do país; sua infância e adolescência se assemelham com aquelas descritas por José Mauro de Vasconcelos em “Meu pé de laranja-lima” e suas continuações (“Vamos aquecer o sol” e “Doidão”), inclusive na angústia. Só que, enquanto Vasconcelos enveredou por uma adolescência mais travessa, Marciano-Sabino escolheu a angústia literária.
E aqui, uma talvez inútil elucubração: a página 68 lembra o 11 de setembro. O significado do terrorismo como os hodiernos o presenciaram, dissecado numa conversa/ troca de provocações entre três jovens na década de trinta. Realmente era inevitável o aconteceu.
Já como história universal, romance de formação e coisa e tal, é apenas razoável. Impressionante, mas razoável. Nem tudo o que impressiona é necessariamente genial - vide os filmes de Ken Park.
Mas é preciso aquiescer: o livro tem momentos geniais. A crítica tem de ser justa ou pelo menos tentar; não é admissível se apoiar em velhos clichês. Aos que acusam Fernando Sabino de mero “fazedor de biscoitos”: ele fez mesmo um biscoito. Um biscoitão, do tamanho de uma pirâmide. Eu vos acuso de falta de apetite. Aliás, falta de apetite não; de gula. Vocês não são mais crianças; não acham a menor graça na procura eterna, e isso, se não é defeito, ao menos não dá vontade de ser amigo de vocês.

(quando digo que eu seria uma crítica literária mazinha, é isto o que quero dizer)
(crítica feita para a matéria Jornalismo Literário em 2003 ou 2004, quem se lembra?)

7.10.06

been there, done that

Convenções de anime: formando o artista performático e o fetichista de amanhã.

O pior de conferir muitas manifestações culturais díspares em datas próximas (ópera, filme experimental do Daft Punk, concurso de cosplay, Philip K. Dick, Fernando Sabino) é que você começa a ver conexões em tudo. Especialmente se você tem propensão a teórico de conspirações.
Fui ver A flauta mágica de Mozart. É uma batalha do dia conta a noite. O dia ganha, mas a noite é muito mais aplaudida.

5.10.06

Bar. Agora só vejo lançamento de livro em bar. Alguns têm a ver, como a Coleção Devassa, mas outros não, como o meu.
As livrarias têm charme, mas também o problema de ter que servir bebida num local onde a circulação é difícil. E quando algo é derramado, é nos livros.
Mas não gosto de bar também... a não ser um e outro. Os da praça Varnhagen, por exemplo. Os da ZN são mais legais, inclusive no preço.
Gosto de boîte, caixinhas com luz estroboscópica, barulho e escuro. A feia noite veio daí, em boa parte. Mas tente ler um livro numa boîte.

4.10.06

O chato de ser escritor é que você tem que descobrir a vocação duas vezes. Uma é a de escritor; a outra é a coisa que vai te sustentar mesmo.
Meu plano de subsistência incluiu fazer curso de tradução (fiz), estágio em uma empresa de tradução (consegui) e depois numa editora (conseguindo atualmente). Deste ponto, deixo a vida me levar: trabalharei numa editora, ou em casa traduzindo tradução técnica, ou tradução literária, ou legendagem de filmes, ou crítica literária, ou, ainda, uma acadêmica meio pancada. Mas veja como as palavras sempre estão no meio.

3.10.06


Pronto.
Caso queira ajudar a divulgar o lançamento, pode salvar este convite e colá-lo em seu blog, mandá-lo por email, colá-lo em bancos de praça, tudo isso.

2.10.06

Muitos dos filmes que vi no Festival do Rio 2006 envolvem árvores e morte.
A fonte da vida: um médico e sua mulher morrendo de câncer, ele pesquisa a árvore que pode salvá-la. Paralelamente, no futuro, um homem tenta revitalizar a mesma árvore, que está morrendo.
Les filles du botaniste: moças executadas na China pelo "crime do homossexualismo" têm suas cinzas enterradas juntas sob uma árvore.
El laberinto del fauno: no meio da guerra civil espanhola (= morte), uma menina recebe tarefas mágicas de um fauno. Uma delas é ressuscitar uma árvore que está morrendo.

Em Electroma, o filme do Daft Punk, não há quase árvores, no máximo arbustos. Afinal, são dois robôs com a aspiração de serem humanos. O resultado que obtêm é grotesco, e acabam sendo perseguidos por toda uma cidade de robôs-aldeões-zangados. É uma inversão óóóbvia do fato do Daft Punk se vestir de robô e todos os outros humanos acharem estranho (eu não só dou o maior apoio, como também me acho uma andróide e criei uma outra garota-andróide, a Maria Luiza do A feia noite. Aliás, vide o post abaixo.).
Em suma, como disse o JP, dos filmes chatos que já vi no Festival, este foi o melhor.
A trilha sonora de Electroma é perfeita. Linda Perhacs, Brian Eno e Chopin! I like Chopin.
Só faltou uma música que caberia muito bem: Wire - Small electric piece
E uma que é boa, embora não se encaixe no filme: Vector Lovers - Suicide Android