1.11.06

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Como vou debandar no feriado, deixo vocês com um trecho inédito de A feia noite, meu livro novo.

Baralho. Mexe num. Amanda não gostava de cartas. Está com vontade de foder a menina. Foder ela toda. Quanto mais ela falava.
Ele também não joga, só sabe de várias maneiras interessantes de fazer as cartas voarem e caírem umas entre as outras. Um tio ensinou.
Quanto mais ela fala também mais parece errado sentir tesão nela. Tão pura. Tão santa. Quisera tanto alguém como ela, que se preocupasse, que não tinha se preocupado com o que sentir depois que achasse.
Bela maneira de gastar energia. Muito tempo sem praticar, desde a adolescência, o tio já morreu? Nem sabe. A habilidade continua a mesma. As primas se interessavam mais. Maria Luiza logo se cansa.
A sua boa jogadora de fliperama parece ter algum parafuso solto, uma espécie de fixidez nas coisas erradas. De tão absorta na vitória não vê emoção no jogo.
Acabava de se convencer. Maria Luiza não se prostituía por dinheiro.
Queria que fosse pelo dinheiro – seu perdão estaria pronto, embrulhado pra presente, só passar no caixa. Se fosse por dinheiro, ou por qualquer outra coisa. Mas era por convicção ideológica.
Começa a figurar o storyboard que ela tinha montado pra ele (milhares de post-its e flechas em sua mente). Fazia sentido. De um jeito completamente deturpado.
Seria incorretíssimo chamá-la de ímpia. Ela é pia – tão pia quanto ele, ou até mais. Só que pelo outro lado.