23.11.06

it came a long way, baby

Antes de descobrir a música eletrônica, eu já mostrava uma forte inclinação pela coisa. Não é coincidência. Nunca conseguiram me fazer aprender a tocar teclado (órgão eletrônico) direito, mas meu brinquedo instrumento preferido na época foi o sampler de percussões.
Mais uns fatos esparsos:

- Fatboy Slim, antes de sê-lo, participou da banda Housemartins, por cujo sucesso Build eu era vidrada (tocava na rádio Antena 1, de easy listening, que minha mãe ouvia).

- Meu pai gostava de música um pouco mais séria. Ouvia CDs dos Beatles over and over. Eu comecei a gostar muito da última música do álbum Revolver, a Tomorrow never knows. Um dia a MTV me informa que outra música amada, a Setting sun dos Chemical Brothers, era uma releitura de Tomorrow never knows.

- Quando descobri as mp3s, a primeira música que meu pai me encomendou foi a Darlin' dos Beach Boys, de que eu também gostava. Darlin' foi o nome da primeira banda do atual Daft Punk, que então fazia um rockzinho inspirado em Beach Boys. Foi o Darlin' quem recebeu a crítica negativa (dizendo que "parecia punk babaca", ou "daft punk") que batizou a dupla de house que todos conhecemos e amamos.

Enfim, quando ouvi a It's no good (do Depeche Mode) no rádio aos 14 anos, me bateu na hora que aquilo era o futuro (ai, doeu. Mas foi isso que senti, sem sombra de clichê. Pelo menos o meu futuro.) Não é que o rock'n'roll não me dissesse nada, mas dizia algo meio msnnbnnhtoviassú-- HÃ??
Eu não digo isso sempre, porque deixa os fãs de rock meio cabisbaixos ou putos. Eletrônica era predominantemente música para pessoas que não sentiam necessidade de ser salvas. A eletrônica não aspira a posteridade, sabe-se transitória, sabe-se degrau. Quando uma música eletrônica fica, é porque é realmente muito foda, e não porque marcou época. Os seres humanos que amam a eletrônica são líquidos, desprendidos de todo, poderiam substituir as partes do corpo todas por peças amanhã sem o menor assombro, seria natural, e viveriam adiante.
Penso que os acadêmicos sapateiam sobre essa noção, porque o líquido é terrível. Mas não é só terrível. Pode ser um caminho. Eu penso no tao: será que ao desistir, abandonar o instinto de sobrevivência, a necessidade primal de destruição e de construção, a (pós)humanidade não estaria dando sua última cartada para a própria sobrevivência?* (Acadêmicos sapateando de novo.) É fascinante. É perigoso. É sublime. Pode ser que seja um passo errado e tudo fica sem ser testemunhado até que surja outra vida inteligente na área. Mas seria um bom ponto final de romance.

*esta frase parece-se com o final do meu livro