23.2.07

meu amigo tem um problema

Acho que avancei mais um nanômetro na compreensão disso que chamamos nossa nação. Temos a síndrome do "meu amigo tem um problema". Explico.
Quando um "cidadão de bem" brasileiro vocifera contra os corruptos, os traficantes e os assassinos, ele está na verdade vociferando contra si mesmo. Não é porque a culpa seja "da sociedade" - uma bobajada tão grande que merece um epíteto bem feio, como o de "bobajada" -, nem nada do gênero. É que ele mesmo no seu cotidiano replica a corrupção endêmica, e falo de corrupção num sentido amplo: joga papelzinho no chão, fura o sinal, frauda o imposto de renda, guarda a aliança no bolso, pratica a lei do menor esforço etc. etc. É uma catarse: todos, ao falarem mal de uma pessoa pior que todas, se redimem. Bode expiatório mesmo. Ao mesmo tempo, o "bode" retém a glória de ter conseguido se superar em sujeira num país já tão sujo.
É tão fróide que dá até Vergonha Pelas Pessoas. O roteirista desse seriado é horrível: coloca o personagem para falar embaraçado "tem um amigo meu que foi chifrado pela mulher e, pelo que ele me disse...".