26.4.07

Parece uma espécie de castigo de escola: rubrique seu nome em todas as páginas do roteiro e assine na última. É também uma espécie de teste de fé, pois só um autor que ame mesmo sua obra vai querer enfrentar esse pelourinho. Aliás, um plagiador não teria este saco: foram oitenta e duas rubricas, assinatura, imprimir o boleto, tirar xerox da identidade, CPF e comprovante de residência, comprar pasta polionda, enfrentar fila no Banco do Brasil, esperar a atendente que tinha ido no banheiro (se maquiar. Demorou 30 minutos cravados e não voltou muito melhor) e daí os carimbos, as autenticações e grampeamentos. A partir de hoje você já pode divulgar a sua obra, disse-me ela.

Então estou divulgando. Finalmente concluí o roteiro do meu livro, A feia noite, e estou abrindo oficialmente a temporada de caça a diretores. Estou também torcendo pelo sucesso avassalador das adaptações cinematográficas dos novos autores (Daniel Galera e Clarah Averbuck), porque aí entra na moda e fica fácil de conseguir financiamento.

O roteiro passou por várias fases até encontrar seu caminho. Já houve uma versão mais inventiva, mas também cara demais para ser viável no Brasil. Adequei, agora está mais realista em termos econômicos.

Depois que eu entendi uma certa nuance da adaptação, ficou fácil. No livro eu comecei com uma idéia básica, fui escrevendo cenas-chave e, nelas, identificando referências literárias que usava como bússola para as demais cenas. No roteiro, retornei à idéia básica e usei referências audiovisuais. (Ou seja: o livro parece um livro e o roteiro parece um filme). Eu ia escrevendo e listando as referências. Confira:

Audition, Bonequinha de Luxo, Encaixotando Helena, Clube da Luta, Beleza Americana, Mary Poppins, Gilmore Girls, Charlie Kaufman, Pen-ek Ratanaruang, Darren Aronofsky, Quentin Tarantino, Asia Argento, Sofia Coppola, Rogério Sganzerla, Almodóvar, Nelson Rodrigues, Glauber Rocha

Do Tarantino para a frente são referências menores. Quer dizer, diretores com quem não concordo totalmente. Quando lembro daquelas falas proto-emo de Terra em Transe - "se ao menos pudesse fazer uma poesia que falasse de coisas mais sérias..." - e do jeito como eram over-the-top, me dá náuseas. E Sofia Coppola, tão nhém-nhém-nhém...