26.6.07

Faz tempo que não posto sonhos. Eles têm se divididos em sonhos do passado (eu adolescente) contaminados de futuro e sonhos de futuro (eu balzaquiana) contaminados do passado. O que vou contar cai nessa última categoria. Lembro que percebi que era no futuro porque o sonho deixou duas pistas claras: 1) eu tinha um carro e dirigia 2) eu lia um conto inédito (e póstumo) do Salinger. Era inacreditável. Ele narrava uma experiência pessoal no melhor estilo new journalism.
Depois de sua morte "ficamos sabendo" que, periodicamente, ele deixava a reclusão incógnito e arrumava um bico numa fazenda, ao lado de chicanos e white trash. As pessoas pensavam que ele era um amish foragido, com aquela barba. Ninguém nunca ia notar que se tratava de J.D. Salinger. E não notaram mesmo. Mas o conto não era sobre isso, claro. Era sobre como ele “ainda era forte”. E um pouco sobre as plantas andarem esquisitas. E eu indagava em pensamento, será que ele sabia dos transgênicos?
Eu dirigia mal, muito mal. Fazia curvas horríveis. As mãos das ruas tinham mudado. Minha padaria preferida estava ampliando para ser também um cybercafé. A mobília dos computadores era de fórmica vermelha. Mondo bizarro.