2.8.07

Fiquei viciada em cadernos verticais. O que comprei na Papelaria União dizia na etiqueta: “caderno de taquigrafia”. Achei engraçado. Quem ainda usa ou sequer lembra do que é taquigrafia, afora os // que substituem “mente”?
A União, aliás, está encolhendo. Primeiro, surgiu aquela “butique de cafés” no subsolo. OK, café e livros combinam, mas de alguma forma aquilo já me deixou ressabiada, como o prenúncio da queda de um império. Hoje fui lá comprar meu bloco e quase parei na entrada: a União tinha virado uma saleta ao lado de um hipercool sushibar! Entrei na saleta, incrédula, e girei para medir as dimensões tão papelaria-de-bairro; divisei atrás da entrada uma escada que conduzia ao andar superior, com a plaquinha conheça nossa sobreloja!, ponto de exclamação. Subi. Lá em cima a União parecia refulgir em toda a glória do passado, cores claras, piso reluzente de colégio, prateleiras imaculadas, cadernos em pilhas exatas como se cortadas a faca – uma espécie de utopia TOC. Estudando-os de perto, porém, notei que os itens eram esparsos e danificados, como se o estoque estivesse acabando e nunca mais fosse ser reposto. Suspeitei que era essa a verdade.
Enquanto isso, saiu mais uma matéria no jornal sobre os cadernos Moleskine. Cadernos Moleskine me dão ódio. Me parece coisa de esquerdista com Audi que vai tomar capuccino no Espaço Arteplex (esqueci que Espaço de Cinema já não é mais o último grito da moda, aaah), onde, emproados, farão anotações estudadamente casuais (querem ser poetas ou estilistas ou artistas, sempre!) com uma caneta-fetiche e serão abordados por outro idiota (“Esse é um Moleskine?”) para uma conversinha estudadamente casual sobre tópicos idiotas. É preciso dizer que este tipo de gente pululava na minha faculdade, embora nem todos tivessem Audi. Agora que faz um terrível frio de quinze graus no Rio é fácil reconhecê-los: são os que se vestem de modo a fazer meu namorado me perguntar se por acaso erramos o caminho e viemos parar na Noruega. Um dia essas almas voltarão a lembrar (via imprensa) da União e a cobiçar seus bloquinhos, abandonando os Moleskines aos recados garranchosos da empregada.
A Casa Cruz vende um Moleskine da Tilibra por três e cinqüenta. Fui atrás do da União porque se encaixa na minha mão como uma bola de handebol (eu era a goleira, e boa, quando não me distraía com alguma nuvem). Escolhi o verde porque me lembra a encadernação dos Monteiro Lobato, mas também existe em preto-fórum e em moderno teal (azul-petróleo, mas juro que é verde). Recomendo.

P.S.: Quanto à história da recorrência de palavras exóticas: escrevi este post ontem e logo depois topei com um texto de jornal que falava de um escritor que tinha escrito todo o livro em um "bloco tilibra", hah.