30.10.07

Da série: traduções horríveis

Black swan, do Radiohead*, começa com o mesmo verso que É o tchan!, do Gerasamba. Pra mim é sinal do apocalipse.

"What will grow crooked you can't make straight" = "Pau que nasce torto, nunca se endireita"

*na verdade, só do Thom Yorke

29.10.07

Já dei uma palha aqui da coleção Encontros (editora Azougue), da qual fui pesquisadora. Vão ser lançados cinco volumes ao mesmo tempo na próxima terça, aqui no Rio, na pizzaria Piola (Paul Redfern, 44). São livros de entrevistas que dão um panorama das idéias de pessoas representativas. Representativas quem, você pergunta? Vinícius de Moraes, Darcy Ribeiro, Rogério Sganzerla, Jorge Mautner e Milton Santos. Os dois primeiros estão divertidíssimos e têm coisas jamais publicadas na íntegra. Os dois a seguir dizem coisas importantíssimas e outras extremamente piradas, todas válidas. E o Milton Santos, que no início da pesquisa eu nem sabia que era geógrafo, passei a respeitar. É um pensador de verdade e ainda picha alegremente o espírito de repartição pública da nossa academia.

28.10.07

Não resisto a um vibrafone. Lembro disso toda vez que ouço Desafinado na versão do Sérgio Mendes - e agora que a baixei, nunca mais vamos nos separar.
Não gosto de qualquer bossa nova, mas me amarro nas instrumentais. Acho João Donato um gênio. Tenho tudo dele. Já fui viciada em dezenas de músicas diferentes tocadas por ele - desde Sambou, sambou a Lunar tune.
Vibrafone tem um hálito de festa de 15 anos chique. Quando eu era pequena, ainda se usava pôr vibrafone e piano nessas festas. Isso foi antes do tecladão com batida pré-gravada assumir. Poxa, eu conseguia até ficar feliz - apesar dos brigadeiros com uva dentro e das malditas castanhas duras, que usávamos para fazer guerrinha.
Quando ouvi um vibrafone pela primeira vez (talvez na casa de minha avó Eunice, em disco) imaginei pérolas. Era um som redondinho, brilhante e chique como uma pérola. Perfeito.
Também adoro marimba e aquela espécie de marimba japonesa que foi usada pelo Little Tempo para o tema do filme The taste of tea (Gosto do chá).

24.10.07

Outro dia vi uma mulher lendo no ônibus. Como sempre, espichei o pescoço para ver o que ela estava lendo... e como sempre, me decepcionei. As pequenas figurinhas nas bordas denunciavam que se tratava de um livro de auto-ajuda. (O único livro com figurinhas não de auto-ajuda é Alice no País das Maravilhas...)
Aí fiquei pensando no porquê de ninguém escrever ficção para essa mulher. Ninguém nesse país. Também, você pensa, por que escrever para essa mulher? E pensa: por que não?
Talvez eu não seja capaz de escrever para ela, mas para um aluno inteligente de ensino médio. Aliás, já estou escrevendo para esse aluno, uns contos com começo, meio e fim, que todo mundo entende o que se passa. Assim: eu ando metade do caminho, o aluno metade (com o PAC dos livros e óculos), e a gente se encontra no meio. Até topo continuar pagando CPMF para isso, mais um pouco.
O fato é que alguns livros da nova literatura são pura masturbação intelectual. E nem todo leitor gosta de ser tratado como atriz de bukkake. Meu conselho é abri-los de olhos semicerrados...

Mas chega de sacanagem. Agora estou lendo uns contos de Machado de Assis - aqueles que ele escreveu para revistas femininas e semanais - e me encantei. Por que não nos deram isso para ler, em vez de "Cinco minutos" e "A viuvinha" ?
Outra coisa com que fiquei passada: esse meu livro novo terá um conto de escola, que eu pensei em chamar de "Conto de escola", mas já havia um "Conto japonês" abrindo o livro, o "Amostragem complexa". "Papéis avulsos", livro de contos do Machado, tem um conto passado no Japão ("O segredo do bonzo") e outro chamado "Conto de escola". Tudo, tudo já foi feito, mas às vezes é impressionante como é refeito tão igual - sem cola nem nada. Será que ele tem algum conto sobre bibliotecas (retake on Borges, desse eu colei)?
Notei também que Machado colocava mulheres poderosas em seus contos (em tudo!) e, engraçado, não vejo ninguém chamando a literatura dele de chick lit.

17.10.07

O freguês sempre tem razão

Cliente: Tem mozarela e mortandela?
Atendente: Desculpe, senhor?
Cliente (achando que a atendente é surdinha, coitada, e caprichando na pronúncia): Mo-za-re-la e mor-tan-de-la.
Atendente: ????
Dono da padaria: Mussarela e mortadela, Fulana...
Atendente: Ah!

5.10.07

Festival do Rio - o balanço final

Não vou falar dos filmes ruins. Até porque este ano eles não existiram. Todos tiveram ao menos algum valor no-nu-nutitri... adequado. Mas vou falar dos melhores.

I'm a cyborg but that's ok - Imagine Bicho de 7 cabeças filmado como comédia romântica e com um roteiro muito, mas muito melhor.
Brando - Durou duas horas e meia e não cheguei nem perto de ficar entediada. Esse documentário sobre Marlon Brando cobre todos os filmes do homem, até O grande motim. Um cartão-postal do filme informava que vai passar dia 28 de outubro, às 22h, num canal chamado TCM Classic Hollywood - não sei nem de que operadora é, mas não perca.
Tabu - Quero ser dançarina havaiana. Também por causa de Brando, mas este aqui foi o que me fez a cabeça. Mistura de Romeu e Julieta, Iracema e Rapa Nui. Mudo. Preto e branco. Atores nativos. Fotografia perfeita.
Amor fantasma - Mistura de Ingmar Bergman com David Lynch, em preto e branco. Not for the faint of heart. Mas é realmente um exemplo de como arte "cabeça" pode se esforçar pra construir sentido. As coisas postas na tela realmente têm uma simbologia, uma seqüência, uma interconexão; os personagens evoluem e as coisas fazem sentido - não só no final, mas depois de 15 minutos de filme. Contei cinco pessoas saindo durante a projeção, das quinze que tinham entrado.
O fim do mar - quantos filmes você conhece que têm um cego e conseguem desenvolvê-lo de forma interessante? Só isso já bastaria para recomendar esse filme. Acontece que o filme tem outras "gold coins" a partir da também aparentemente cansada premissa do cara que encontra a mulher perdida e decide abrigá-la e salvá-la. O encaixe das cenas é quase mágico. E os breakthroughs dos personagens são os mais redondos que já vi, nem um pouco forçados. E o final é satisfatório.
Paprika - Mistura de The cell com The Matrix e robôs gigantes, em anime.

O único filme ruim que assisti foi um curta francês de 20 minutos (que me pareceram 40) chamado Silencio, inserido de surpresa antes de O fim do mar. É aquela história do filme cabeça não se esforçar pra ter sentido. Aquilo era uma peça de propaganda contra a distribuição de moviolas a adolescentes drogados. Para se ter uma idéia, um velhinho atrás de mim começou a gritar TIRA ESSA MEEERDA! lá pelo 12o minuto. No final do filme, ele já estava destilando seu francês: UUU! C'EST LA MERDE!, e quando apareceu o nome do diretor, CONNARD! Normalmente eu pediria para uma pessoa dessas ficar quieta, mas meu espírito tinha ido dar uma volta fora do corpo.