6.12.07

Estava pensando que voltei para os anos 50. Virei housewife. Fico em casa, lavo louça, limpo, uma vez por semana vou ao centro e retoco as unhas. Levo uma carta no correio, aproveito para fazer um pequeno supermercado.
A diferença é que tenho internet. E, com ela, além de trabalhar em casa, trabalho de casa e me sustento.
No fim-de-semana é que vem o "marido". Ele ainda tem que cumprir jornada de oito horas e sobra tão pouco tempo no fim do dia que raramente nos vemos durante a semana. Ainda estamos devendo uma revolução machista, para os coitados poderem ser housewife também. E pararem de ter que demonstrar eficiência máxima, dureza e ausência de sentimentos o tempo todo, coisa que machuca tanto a eles quanto a nós, mulheres.
É muito triste encerrar as pessoas em cubículos quando elas têm mais o que fazer, coisas cruciais e insubstituíveis, como criar filhos, ler, pintar, filosofar, contemplar e pensar, meu deus, pensar. Depois de oito horas você chega em casa com o cérebro em pasta. Se fossem quatro horas por dia, haveria conciliação. Mas nunca são.
No meu mundo ideal, os criminosos de colarinho branco iriam para call centers e ficariam fazendo ligações o dia inteiro, com cotas a cumprir. Sem que eles soubessem, outro grupo (talvez o premiado por bom comportamento) ficaria incumbido de receber as ligações e infernizá-los ao máximo. Duvido que houvesse reincidência.