10.1.08

A questão é ser raso

Como eu dizia, aqui estamos num nível de organização da civilização bem abaixo do europeu, por exemplo. Ah, me xinga de elitista e tudo, vai, mas acabo de comprovar isso através de um exemplo prático. O metrô carioca tinha colado nas portas duplas dos vagões adesivos de "entrada" e "saída", ou seja: quem estivesse dentro sairia pela sua direita, e quem estivesse fora entraria pela sua direita, evitando o desagradável choque de corpos, bolsas e ânimos. Acontece que isso nunca funcionou. Na melhor das hipóteses, sempre tinha um apressadinho metido a esperto (ou dois) que se posicionava(m) na extremidade esquerda da porta, para entrar pela "brecha" dos que saíam pela direita... brecha essa que não existia, bem entendido. Na verdade, o mais comum era um maremoto de pessoas adentrando no vagão pelo centro mesmo, assim que a primeira fresta da porta existia. Assassinato da física: alguém explique a eles que fica mais fácil de entrar se você primeiro sair, deixando vago o espaço que seu corpo ocupava, porque eu já tentei sem sucesso.
Enfim, como o metrô é gerido por pessoas pensantes, descolaram os adesivos de "entrada" e "saída" e colocaram outro, mais realista, no lugar: "deixe as portas livres para embarque e desembarque". Sim, porque também tem pessoas que querem ficar encostadas - talvez por não possuírem coluna vertebral -, e recostam-se contra a) as suas costas, quando você está sentada no último banco da fileira b) um poste, impedindo que qualquer outro o utilize e c) as portas, porque detestam ir para o meio do carro e ter que passar pelo meio da multidão antes de sair, ai, muito trabalho. Em suma, gente esperta já que você vê que não estão tãão cansados assim. Quem está cansado mesmo, costuma voltar algumas estações, dar a volta e vir sentado no vagão oposto; não, se encostar de pé é pura folga. E eis a essência do Brasil. O RER da França, por exemplo, faz você querer distribuir amostras grátis de Rexona, mas cada indivíduo fede tão longe da porta quanto pode. Prefiro o metrô britânico, onde costumam abandonar jornais (e bombas, por despeito).