14.4.08

Gente, nesta quarta, na Argumento do Leblon, às 20h, tem lançamento do livro Samba falado, com crônicas de Vinícius de Moraes. Fiquei como uma das organizadoras, junto com Sérgio Cohn e Miguel Jost. Organizadora... eu era estagiária! A estagiária mais privilegiada do mundo. Passava meus dias na Biblioteca Nacional ou na Casa de Rui Barbosa - a primeira biblioteca de que fui sócia, aos seis ou sete aninhos - coletando textos, tentando decifrar a letra do Vinicius ou adivinhar o final das palavras na folha carcomida pelo tempo com um laptop meio caixa-prego. Deu pra aprender bastante, desde coisas sobre mim até palavras "novas" (na verdade velhas), bebidas na fonte de Vinícius. Mousmé é uma delas.

A palavra mousmé:
"Acabo de descobrir uma palavra ótima: mousmé. É em francês, mas andou sendo adotada por aqui nos anos 50 e 60. Encontrei-a num texto da época, adjetivando uma moça. Pesquisei e descobri que mousmé provém do japonês musume, que quer dizer moça mesmo (mas isso eu já sabia). Tenho vontade de dar esse nome a uma das partes do meu livro novo, a um conto, ou ao livro todo." - 30/07/2007

Sobre a Casa de Rui Barbosa:

"Agora a minha pesquisa se dá num lugar que é um verdadeiro cenário de shoujo anime. Uma suave brisa desfralda folhas e pétalas ao meu redor enquanto caminho, além de balançar as roseiras em flor. Crianças fofas brincam no jardim (e no kindergarten ao lado) produzindo um suave burburinho em uníssono com os pássaros. Pessoas altas, andróginas, bem vestidas e de boa postura circulam silenciosamente pelo chão pintalgado de luz-e-sombra. Uma delas tinha cabelo azul." - 15/09/2007

Sobre o laptop e minhas habilidades profissionais:
"Sou quase impossivelmente boa em fazer trabalhos especializados e isolados, como pesquisar. Anteontem descobri que podia consertar o mau contato no cabo do laptop abrindo o fio e fechando o circuito com a chave do armário da biblioteca e vedando com os dedos de uma das luvas de látex - a esquerda. Agora, me coloque para atender o telefone." - 30/09/2007

Trechinho de Vinicius sobre o bolero (que nem vi se ficou na edição final):
“Será isso uma das muitas formas de escapismo de uma sociedade doente e entediada a essa realidade saudável e dionisíaca que é sempre a marca da boa música popular? Evidentemente. A música com saúde passou a constituir um elemento “Onézimo” no ambiente escuro e enfumaçado das boates pequenas. As estátuas de talco precisam – para serem convenientemente cantadas pelos manequins de cera – de ritmos emolientes, pervertidos e agônicos à meia-luz de pistas de dança mínimas, pois o amor das estátuas e dos manequins não pode se executar senão à vista dos demais. E como é um amor que, em geral, não resolve, que lhe resta senão exibir-se? E para exibir-se, que lhe resta senão estimular a morbidez dos ritmos que propiciam essa exibição?” - 30/09/2007

Garanto que é um bom livro. E você nem precisa gostar de samba, como eu mesma não gosto (pronto, falei). Basta gostar de ler.
Ah, e a companhia perfeita para o Samba falado, caso você goste de samba, é o blog Loronix, com gravações digitalizadas de música brasileira. Muitas das gravações mencionadas nos textos dão as caras por lá.