27.2.09

That's it, I'm moving to Canada!

Que cidade idiota. Não se pode andar nela com um peep toe, que entra areia de obra da Cedae no sapato.

O Carnaval valeu pelo set de Gui Boratto no RMC, pelo site da SuperVicky que descobri e pela foto com o sombrero.

foto com o sombrero

Fora isso, pff. Tive que bater em três pivetes. Na verdade, bati apenas em um, o do meio, quando ele começou recitando a liturgia do assalto (e eu, a reagir feito um anticristoredentor). Os dois outros saíram correndo. Evidentemente não tinham a menor suspeita de que aquela moça sozinha fosse reagir daquele jeito.
Se eu morasse em outra cidade, passaria por perfeita lady. Mas aqui eu preciso incorporar o caboclo Chuck Norris de vez em quando, porque é faroeste (farsudeste). Quem me vir, não sei, em um evento literário jamais imaginaria que quando preciso descer os barracos, infelizmente sei muito bem como fazer. Fui nascida e criada aqui, é impossível sair incólume. Isso mesmo, não aparento mas sou streetsmart. Pior, uma streetsmart que leu Maquiavel...
Mas também me fodo.
Tive a temerária idéia de ir a um bloco na Lapa. Por causa da Lei Seca, estava cheio de muita gente muito bêbada e eu, inda sóbria, fiquei quietinha num canto que me pareceu mais tranquilo. Mas uma bêbada que não estava se segurando em nada caiu em cima de mim e, quando reclamei, começou a me xingar de branquinha, branquela, gringuinha. Segundo ela, se eu não queria que ela me pisasse, eu devia sair do metrô e ir de táxi, que ali era lugar só de gente de cor.
Xinguei ela de racista e mudei de lugar para não bater nela, que era o que ela queria. Mas por duas estações, ela continuou gritando os mesmos insultos, com algumas variações, enquanto algumas pessoas zombavam da cara dela e outras começavam uma batucada (??). Minhas pernas ficaram bambas de tanta adrenalina inútil, saí me escorando pela Lapa.
Maldita Lei Seca. Antigamente, os bêbados se imprensavam em um carro e, frequentemente, morriam por justa causa; hoje, andam de metrô e preservam suas preciosas vidas para expressar suas lindas opiniões.

Ah, não sem antes recomendar o Stuff white people like (que pelo menos cuida de ser engraçado e não apenas idiota).

22.2.09

RYKAH: Ibiza só para mim

800m2 de house music para mim, os garçons e os seguranças. Duas horas depois apontou a primeira patricinha. Dali a pouco, o lugar estava tomado de clones da primeira e de pitboys que enjoaram de axé. Vi uma menina que estudou comigo na 2a série. Ela parecia ter pelo menos 30 anos, talvez seja a maquiagem - sorry, acabei de fazer 26 e noto essas coisas. Vi outra patricinha virar o pé numa dobra do carpete e espalhar gelo pelo saguão inteiro. O primeiro socorro da noite, surpreendentemente, não foi por coma alcoólico.
O figurino patricesco e a música eletrônica não combinam. A roupa tem que ser: cabelo preso sem tocar no pescoço, short, blusa cavada atrás para respirar, Off nas pernas, tênis confortável. O exato oposto de tudo que as patricinhas usam.
Gostei dos DJs brasileiros que entraram antes da atração principal, mas Gui Boratto, motivo para eu estar lá, superou minhas melhores expectativas. Senti como se estivesse presenciando o primeiro show da bossa nova, ou a estreia de uma ópera de Wagner. Porque o som de Gui Boratto sabe ser intimista e também grandioso. Some kind of magic.
Talvez nem o Radiohead supere essa sensação -- bem, talvez se puxarem o som para a eletrônica --, e que bom, porque paguei o mesmo assalto pelos dois.
"Você é a única menina aqui que realmente sabe o que é eletrônica! A única!" me disse a bilheteira. Eu já sabia disso, mas agradeci a observação. Ela explicou que também era raver, mas estava trabalhando ali para saldar uma dívida. É a crise, a crise. Desejei-lhe boa sorte.

11.2.09

Isso ia entrar no final do livro, mas não entrou. Enjoy.

Observações paraliterárias

Mousmé - Conto japonês - O diálogo entre a menina e o vendedor ocorreu realmente, num sebo já extinto. O curioso é que eu nunca tinha lido Mishima, embora soubesse quem ele era. Inseri o diálogo num conto já começado e ele desabrochou magicamente. Quando terminei a versão preliminar para enviá-lo para a seleção da Petrobras, pensei que pegaria bem ter lido Yukio Mishima. Comprei dois livros seus em sebos e, embora “Confissões de uma máscara” fosse mais falado, comecei por “O templo do pavilhão dourado” – que forneceu a epígrafe para este meu “Conto japonês”. Mas a principal inspiração para esse conto foram todos os mangás (quadrinhos japoneses) que li.
Herói foi uma encomenda da Editora Azougue para uma coletânea de contos eróticos. O voyeurismo de Darel foi inspirado pelo “aquário” que é a sede da editora (edifício Odeon, Cinelândia).
Composição é uma volta ao shopping pelo ângulo de quem trabalha lá (contraposto ao de quem consome). A idéia surgiu numa visita a um shopping paulista (na verdade, a vários).
Segundo andar - A gradativa aglomeração de clínicas e empresas foi tornando a rua Dona Mariana menos e menos segura, pela falta de porteiros e pedestres no fim-de-semana. Imaginei a história “em reverso”, juntando pedaços de coisas observadas em todas as adoráveis transversais do bairro de Botafogo com pedaços de várias fábulas.
Tabu surgiu com a costura de várias experiências como pesquisadora, inclusive na Biblioteca Nacional. Aproveito para agradecer ao Jorge, da seção de Periódicos, pela força.
Elidu – Vi a cena da menina empurrando a cadeira de rodas da avó desmontada e imaginei o resto. Li alguns livros sobre tráfico de mulheres enquanto escrevia o final, como O ano em que trafiquei mulheres, de Antonio Salas.
O último dia – O fechamento de um colégio onde estudei, em 2002.
Wifi – A idéia mesmo surgiu depois de tentar um concurso público e de assistir algumas reportagens na TV sobre como o brasileiro era criativo em matéria de burlar a lei para obter vantagens pessoais. Já com o conto encaminhado, por acaso assisti a uma montagem do balé Coppélia (por sua vez inspirado no conto Der Sandmann de Hoffmann, que eu nunca li). O final foi inspirado por um sonho em que um robô saía do prédio da MTV e dizia: "Quero entregar minha alma a satã. Preciso fazer sexo com um cartão de crédito".

5.2.09

Um dia cheio de calamidades (não foi hoje) - prejuízos, gatos doentes, até roupa nova preferida rasgando - culminou no seguinte:
Atrasada para a dança do ventre, eu andava pela rua já anoitecida, mas ainda quente, com o ipod nos ouvidos. Estava tocando There there do Radiohead, naquela hora em que começa o crescendo. Quando cheguei na porta da academia, o lugar - puf - ficou às escuras. Esperei os responsáveis mexerem nos disjuntores, observei as pessoas da aula de tango vagando morosamente pela sala mal-iluminada pela luz do poste. Nada aconteceu, e continuei meu caminho - ainda tinha outro compromisso ali perto.

Alguém me disse que se o dia começar a dar muito errado, é melhor voltar para a casa -- senão para a cama -- e desistir da partida. Amanhã, começar de novo, claro.
Costurei o short, mediquei o gato e comecei de novo no dia seguinte. Mas está sendo um mês muito esquisito de forma geral. Felizmente nem tantos azares, mas muita coisa fora do padrão.

3.2.09

amostra do amostragem (não resisti)

Meu livro novo, Amostragem complexa, já está à venda no site da editora, mas segundo eles, já está sendo despachando para livrarias. Custa 34 reais e tem 148 páginas.
Se você ainda não sabe se vai comprar, a amostra grátis do livro (3 contos na íntegra) pode te ajudar a se decidir.