7.7.09

Querido Diário

Rio, 19 de novembro de 1994.
Usei o modem para conversar com o computador do dindo. Legal! Ele escreve lá, sai aqui. Eu escrevo aqui, sai lá. Até me passou um arquivo!
Legal mesmo!
Simone


Lembro que foi muito complicado - tive que pedir para a minha avó e a empregada ficarem longe do telefone, e depois gritei para elas virem ver porque algo impensável havia acontecido - uma imagem tinha se materializado no meu computador, mais exatamente esta:

Era esse tipo de incidente que eu registrava no meu diário cor-de-rosa. Trocar arquivos pela internet com o padrinho. Ganhar concursos. Criticar os canais da recém-instalada NET. Reclamar que meus amigos só vinham à minha casa pra jogar videogame.
Eu nunca falava de livros, mas é visível o quanto eles influenciavam a minha linguagem no diário. Quando comecei meu primeiro diário sério, aos seis anos, eu imitava a tradução portuguesa do Diário de Anne Frank, usando um vocabulário muitíssimo mal-colocado (eu não "brigava", eu "pelejava", entende?).
Mas eu queria mesmo é ter achado meu "diário" no caderno dos Transformers que eu ganhei de brinde no aniversário de quatro anos do Igor, mantido dos meus 3 a 5 anos de idade. Tudo o que ele continha eram desenhos e rabiscos incompreensíveis, porque eu não sabia escrever, embora já bolasse frases e ficasse angustiada por não saber registrá-las, rabiscando, por isso, as linhas do caderno dos Transformers. Mas depois eu ficava frustradíssima porque não conseguia ler o que tinha "escrito".
Eu gostava muito do caderno dos Transformers porque, pra mim, aqueles robôs gigantes estavam protegendo meus segredos. Bem melhor que os ursinhos que me deram depois para o mesmo fim.