28.9.09

Chutando cachorro morto

Não acho graça nesses textos que tentam fazer perfil esculachador de classe média. Sério, que engraçado!, dizer que a classe-média-é-medíocre-porque-assiste-novela-das-8 - original também. Que coisa, conheço uma favelada e um filho de dono de cartão de crédito preto que também são doidos por novela... têm Orkut, gostam da Disney etc. etc. Na verdade, conheço até gente inteligente que gosta de algumas dessas coisas. E sempre zoo (zôo? lógico.) elas por isso.
Portanto, nada contra zoar as pessoas por gostarem de novela, mas associar isso sempre a classe média é humor com fundo político, e acho blé. Separar classezinha social pra bater, seja qual for (lumpenproletariat, por exemplo), pra mim é ranço de esquerda dos piores.
As coisas que essas listas apontam não são privilégio de classe. São problemas do Brasil e até, ouso dizer, da condição humana. Acho que bater na classe média por isso é só um jeito de ser condescendente com pobre e demonstrar temor de rico (ou medo de parecer ressentido com rico).

27.9.09

O Ismar Tirelli fez essa entrevista comigo um tempo atrás e postei-a em todo lugar, menos aqui. Ele soube extrair o melhor de mim:

- Não quero praticar bukkake com o leitor (“fica aí, paradinho. Isso.”).
- sobre a relação não-predatória entre vivência e escrita.

- A lan house é o novo rendez-vous. Eu simplesmente tenho que aproveitar isso. Pretendo plantar um vírus que transforme a lan house em biblioteca. - sobre meus projetos futuros.

Vão lá no Portal Literal e confiram como um entrevistador talentoso rende um bom entrevistado.

20.9.09

AMANHÃ, no Bar Balcão, lançamento do meu Amostragem complexa em São Paulo. 19h. Rua Dr. Melo Alves 150 - Jardim Paulista. Fico ali até umas 22h pelo menos. Espero vocês.

17.9.09

coisas que só acontecem na ECo

Ah, a minha faculdade. Passei muito tempo sem ir lá. Tempo demais.
Quantas vezes não caí pra trás de abizarramento naquela faculdade? Só para se ter uma ideia:
Um dia, entrei na xerox, falando animadamente sobre Chaves com uma amiga quando percebi uma menina idêntica à Chiquinha ao meu lado. Idêntica. Eu estava saboreando a coincidência quando Chiquinha-Lama, sorrindo, interferiu: meu ex também é obcecado por Chaves.
- Dá licença, mas eu acho que ele namorava com você porque você é igual à Chiquinha.
(minha amiga disse que eu fui sincera demais)
- Eu sei! É por isso que o site dele sobre Chaves se chama Danizinha.org!
- VOCÊ que é a DANIZINHA ponto org?
Site este que eu tinha conhecido no dia anterior - um dos maiores sobre Chaves no Brasil.
Só na ECo mesmo.
Me vejo como uma grande aliada do português, até quando ele não precisa e não quer ser defendido. Imagine que zelo pela beleza e expressão das frases até em folheto de equipamentos petrolíferos. Gosto que esse tipo de material seja o mais inteligível possível, sem aqueles cabedais de "de" e "ão" que os tradutores preguiçosos costumam fabricar. Nada de "Ampliação da valvulação da pressão". Nada de "escopo crítico". Na minha mão, "scope" é "âmbito" e "critical" é "crucial". (Às vezes, isso faz você perceber como o texto original não faz qualquer sentido, mas isso é outra história.)
Para defender o meu idioma, claro, tenho que conhecer bem o(s) outro(s). No caminho, me encanto por suas belezas (quando há) e peculiaridades (sempre há). O fato de eu aprender, me encantar e desfrutar de outro idioma, paradoxalmente, me torna melhor conhecedora e aliada do meu.
Paradoxo e ambiguidade, como sempre, são coisas que deixam certas pessoas aflitinhas. Na cabeça deles, servir a pátria deve ser se ensimesmar ao máximo, algo do nível tampar os ouvidos e fazer lálálá. Vejo que não são totalmente incapazes, mas me exaspera quererem me "acusar" de pretensiosa (pra mim não é acusação: de fato eu "pretendo" coisas) quando eles são tão obviamente cheios de si; e de "culturalmente colonizada", quando usam jargão dum ideário petrificado, em vez de ler as fontes e aplicá-lo aos tempos que correm.

Mudando de assunto, mas não muito: hoje, na faculdade, vi uma banquinha vendendo ímãs de geladeira do Marx (PlayMobil) e de outros pensadores. Eu queria o do Deleuze, mas não tinha; quase comprei o do Baudrillard. Mas tinha muitos espaços vazios. Aposto que o do Sartre acabou primeiro, >yawn<. É que o Sartre equivale a dizer: "sou feio, mas passo o rodo". Sim, tá bom.

3.9.09

ponto de inflexão

"Há uma oportunidade rara que se oferece que é como uma tábua entre dois navios. Você é confrontado com uma situação que vai estritamente contra todos os seus princípios; nesta situação, e somente nesta situação, você recebe o dom de abandonar todos eles. Claro que para a mágica acontecer é imprescindível estar situado num turning point."

Trecho de A feia noite (2006)

Será pecado se enamorar tanto do próprio livro? Parece incestuoso. Sei que trechos dele vêm na minha cabeça o tempo todo, e sinto uma compulsão de citá-lo frequentemente.

Maria Luiza, dona dessa frase, é filha de uma ex-umbandista que encontrou... o marketing ("largou os trabalhos pelo trabalho"). Quando leio o termo marqueteiro "turning point" ou "ponto de inflexão" esse trecho sempre vem na minha cabeça.