23.1.10

Ríastrad

Eu disse há semanas atrás que não curto drama nem gente intensa - mas eu estava falando mais de mulheres. É engraçado como admiro as mulheres frias e reservadas* mas acho que um certo tipo de intensidade cai bem em certos homens.
Ele está lá, bebendo com sua matilha. De repente, surge um mal-entendido e ele tem que ser jogado embaixo de água fria para não entrar no modo Cúchulain. Por quê?
Você vai investigar e vê que algum dos colegas dele fez um comentário maldoso, disfarçado de piada, sobre algo que ele realmente preza. Não o time de futebol. A irmã dele, por exemplo. Ou um comentário racista. Ou simplesmente foi inconveniente e demonstrou que precisa ouvir um calaboca.
O que acontece na maioria das vezes é que não tem nenhum Zidane por perto. O babaca solta seu comentário sujo e não ouve um cala a boca bem-dado nem apanha: é olhado feio por umas três pessoas no recinto, e os leões covardes à sua volta espremem os lábios e engolem em seco: não sentem a ofensa tão intensamente a ponto de reagir. Ou sentem, mas foram educados a não reagir, se importam tremendamente com o que vão pensar deles depois**. Será deficiência hormonal? Medo de se meter em confusão, quebrar umas garrafas?
Depois de pensar muito, creio que o arquétipo do lobo solitário me deu a resposta. O lobo solitário pode até andar em grupo, pode até ser fiel a ele, mas sua aliança final é para com ele mesmo. Ele costuma ser a voz discordante mesmo que isso resulte em climão. A pressão dos amigos não funciona com ele; pelo contrário, até o indispõe mais ainda contra o grupo. O lobo solitário acha que se garante sozinho, e mesmo que não ache, ceder a algo com que não concorda seria pior que morrer estraçalhado.
Frente à conspurcação daquilo que lhes importa, alguns lobos solitários se incendeiam na mesma hora; outros conseguem puxar a própria coleira e civilizadamente expor o X do erro do outro. O que não tolero é quem tem a delicadeza de ficar caladinho perante um ultraje, ou a falta de noção de honra em não reconhecer um.
O lobo solitário berserk costuma ser bom em botar ordem na casa. Coibir o trickster, por exemplo, é com ele. Mas ahn, faria melhor você em jogar todos esses arquétipos no lixo; o que chamam de homem hoje é uma figura perdidinha, depilada, anoréxica e platônica, que te vê como totem prêt-a-porter (tô comendo) e que acha cool dizer o amor é importante porra - sem ter melhorado no reconhecimento de emoções faciais com isso. Muitas abraçam esse novo padrão. Já eu acho total suicídio evolutivo.


Sim, esse texto faz apologia à violência (mesmo a verbal; mesmo a filosófica***), ao tanto que ela é capaz de comunicar que a concórdia não consegue. Gente lesa gera gente lesa.


*Meu conceito de fria e reservada é muito particular; uma mulher pode ser fria e reservada mesmo fazendo filme pornô, basta manter seu eu numa caixa separada (a caixa de Pandora. Assisti a Louise/Valentina ontem, por sinal).
**Isso é totalmente diferente do patético pitboy, que arruma confusão pra se promover e porque sabe que o papai vai dar um jeito pra ele.
***Aniquilar alguém com argumentos; ownar.