19.7.12

Linguagem privada

Hoje sonhei que encontrava meu amigo imaginário de infância, o Iogurpo. Também é um nome que existe só no meu sonho, e creio que a palavra era uma mistura de Igor (um amigo real) com Iogurte. Outra coisa é que eu só encontrava esse amigo imaginário no sonho, jamais delirei que ele existisse de verdade.
Sempre tive esses termos particulares e estrambólicos no meus sonhos. Meus sonhos tinham um sistema de saúde próprio, chamado PENUMB, depois alterado para FUNEST (mas só no nome, era a mesma coisa). Já contei essa história em outro post.
Iogurpo não falou comigo no sonho de hoje. Ele e sua irmãzinha estranha eram paranormais, e tinham roubado o corpo adulto dos meus amigos reais (e atuais) para poder sair pelo mundo, em vez de prisioneiros na casinha de interior de uma velha. Eu pedia meus amigos reais de volta aos paranormais, chamando-os pelos nomes que a velha tinha dado (algo como "João" e "Maria"), e "Maria" me corrigia, dizendo que na verdade ela e o seu irmão se chamavam Iogurpo e...
-- IOGURPO! -- exclamei. -- Aquele nome que só existia nos meus sonhos quando eu era criança!
Acordei imediatamente, é claro. Meus sonhos também estão cheios desses momentos semilúcidos em que eu faço referência ao mundo real, estilhaçando a ilusão.
E o sonho de hoje serviu para sublinhar: tenho sonhos lúcidos há tanto tempo que tenho uma espécie de consciência histórica deles, regurgitando a história que andou acontecendo aqui fora (então os termos não formam uma linguagem privada realmente; o título é brincadeira). O PENUMB mudou para FUNEST quando o INAMPS passou a ser INSS, por exemplo.
Além disso, não só são sonhos lúcidos, como lembrados ao acordar em detalhes. Isso dá uma nostalgia em várias camadas: a lembrança da lembrança do sonho ao acordar, e a confusão de ter inventado o nome Iogurpo de mim para mim, e a estranheza de ter reencontrado uma pessoa que eu não sabia se existia fora da minha cabecinha de, então, 4 ou 5 anos -- tudo isso volta. Vem a saudade dessa pessoa imaginária, da pessoinha real que eu era, e desses sonhos, e dessas sensações.
Se eu não tivesse atribuído nomes a essas "pessoas" e "instituições" de sonho, seria muito difícil lembrar de tudo isso. O mais bizarro é ter feito isso enquanto sonhava, e não aqui fora, e ter escolhido nomes sonoros e exclusivos, que dificilmente existiriam aqui fora.