9.8.14

I Woke Up Like This

Esse ano, na Flip, vi uma menina rotular um escritor cujo livro havia adorado de “babaca” porque, depois da palestra, não conversara – não fora “simpático” – com as pessoas durante o autógrafo. Será que ela vai parar de comprar os livros dele porque ele não fez uma cara feliz enquanto servia o lanche dela? Me preocupei.

Essa menina estava na fila do Andrew Solomon e o achou muito feliz e simpático.

Às vezes, eventos literários parecem um concurso de quem é mais simpático e bonito e “acessível”. É mais fácil ganhar esse concurso se você é estrangeiro, pois raramente você tem intrigas ou desafetos por evitar. Sento na plateia para ver os colegas falarem e, ouvindo o que ouço, quando estou no palco, tento não pensar no que podem estar falando de mim. E visto uma máscara de pancake de extrema simpatia e energia.

Ninguém é obrigado. Mas muitos de nós, porque precisam do dinheiro, porque precisam alcançar leitores, escolhem estar lá. Mas quando você chega a estar cara a cara com o leitor, você já foi acossado por gente chata ou arrivista, cobrado de aparecer em tal e tal lugar e posar para tais e tais fotos. Você também pode ter sido peitado por um ex ressentido ou perseguido por um pretendente bêbado. Para piorar, você pode ser o tipo de pessoa reservada que detesta multidão e frisson. Surpresa: muitíssimos escritores caem nessa categoria. Eu também – mas aprendi a aplicar o pancake mental. Sei que muitos colegas o aplicam, outros não querem e/ou não conseguem, mas não os julgo por isso ou por aquilo.

Como a menina do primeiro parágrafo, também achei o Solomon simpático e feliz, mas sei perfeitamente que estava tratando com a face pública dele. E que os livros dele são bons independentemente de ele ter se mostrado bom relações-públicas ou não.

D'après a matéria do Bolivar Torres n'O Globo (aqui:http://goo.gl/M0dXk7)